bikenauta

Abril 12 2015

Para quem nasceu e passou a vida numa cidade andar pelo sertão é impressionante.

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Terras a perder de vista, cobertas de matas sobre morros e serras. Nem pense em tomar posse de um pedaço, tudo no sertão já tem dono. O sitiante "seu" Zé, parece uma simpatia, mas tente passar da porteira pra dentro sem pedir licença!

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Com certeza, não há naqueles termos um pedaço, um grotão, uma nascente de rio que não tenha sido visitado por índios, portugueses aventureiros e caboclos andarilhos. Mesmo num vale tranquilo tem sempre uma estradinha, testemunho de que os homens andam pelo sertão.

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 O ar é limpo, e se algum resquício tóxico há, veio tocado das cidades pelo vento. Então, pode-se puxar o ar e prender no peito ou direcioná-lo para alguma parte do corpo – minha mente costuma manda-lo para as vértebras cervicais com incrustações de cálcio que me incomodam o tempo todo. As cores são mais acentuadas e enchem os olhos com uma beleza incrível. É o sertão. 

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Ontem, 11/04/2015, treze homens subiram em suas bikes para rodar naqueles altos.

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Tanta lindeza vimos por aquelas paragens, e nem tão distante ficam das cidades.

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As serras e os caminhos que as atravessam, cheios de subidas e descidas semeadas de pedras soltas, exigem muito do corpo do ciclista. Às vezes até os derrubam. Aqui "seu" Zé "comprou um terreno" mas já colocou ele à venda.

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Quando se chega à uma pousada simples naquelas brenhas as conversas rolam, bebe-se muito líquido e se come o que nos oferecem.

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Foi uma volta de poucos quilômetros, nem cem, mas as dificuldades do terreno acidentado esticaram o tempo e quando descemos a serra a noite já havia caído.

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 Que beleza aquelas luzinhas nos capacetes e nas bikes cortando velozmente a descida asfaltada em que as cidades que deixamos para trás de manhã bem cedo, agora nos atraiam com conforto, um banho quente e o calor da companheira.

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O sertão e sua variada vida escondida não dorme, mesmo coberta pela noite está cheia de movimento. Deixamos o sertão lá nas montanhas.

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publicado por joseadal às 13:40

Abril 10 2015

Ontem, 09/04/2015, fui a cerimônia Ghostbike de Mário de Oliveira, ciclista atropelado por um ônibus em Barra Mansa, e que não conhecia.

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 - Zé, você foi como apoio a alguém da classe de ciclistas a que você pertence, não é?

Enquanto pedalava para o encontro na entrada da ponte dos Arcos, pedalando por uma via movimentada entre Volta Redonda e Barra Mansa que não tem ciclovia e a gente se espreme ao meio-fio com os carros passando raspando, pensava na razão de estar indo à cerimônia.

Havia uma questão política que levantei quando me foi dada a palavra. A tendência mundial para tentar reverter um quadro de sobrepeso geral, de estresse galopante e de trânsito sempre engarrafado é a mobilidade sobre duas rodas, sem motor a combustão e de preferência com as próprias forças. Mário de Oliveira, contou-me sua filha, andava de bicicleta desde os 15 anos e ela e irmãos iam para a escola no porta-embrulho bem agarradinhos ao pai que amavam.

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Uma intimidade dessas um garoto dentro de um automóvel vendo o pai ou a mãe xingar e fazer barbaridades no trânsito, nunca vão ter. Disse, na presença do presidente da Câmara de lá, que Volta Redonda e Barra Mansa teimam em não acompanhar a mudança de comportamento mundial e seus políticos e técnicos não têm criatividade nem ousadia de mudar o que é retrógrado. Marcelo Cabelereiro quando discursava.

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Mas foi uma homenagem bonita, ao homem e ao ciclista. Um grupo expressivo saiu daqui e foi pedalando até lá o que deve ter emocionado a filha e a neta de Mário de Oliveira que também discursou.

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 Então, aconteceu o momento simbólico de afixar com corrente uma bikezinha branca como lembrança de que naquele local foi morto um ciclista.

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A polícia parou o trânsito e os ciclistas sentaram na rua como um pedido e um aviso de que as vias dentro da cidade não são só dos veículos motorizados.

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 Em suma, fui lá homenagear um irmão e um colega ciclista que chegou aos 77 anos pedalando e podia ter vivido muito mais tempo. Quem sabe, sua morte não despertará consciência?

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 A bicicleta existe para aumentar a expectativa de vida das pessoas e não para nos expô-las a morte prematura. 

 

publicado por joseadal às 12:33

Março 21 2015

Mil anos a.C, quando Salomão reinava em Jerusalém, aqui no Brasil homens ainda na Idade da Pedra deixaram marcas nas paredes de pedra de um monte. Fui lá ver.

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Saltei do ônibus em Andrelândia, Minas Gerais, tirei a bike do bagageiro e rodei. Não demorei muito avistei uma cadeia de morros com mais de 1.300m de altura.

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 Enquanto avançava pude perceber porque aqueles homens escolheram a serra de Santo Antônio para fazer suas pinturas rupestres. Enquanto os outros são cobertos do verde do capinzal e das ralas matas, o morro tem uma frente de granito e parece um rei-guerreiro todo coberto de armadura.

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O site do Parque Arqueológico avisa que o último quilômetro é muito íngreme. E é mesmo, subi empurrando a bike. O morro avultava quanto mais me acercava dele.

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À entrada o pequeno museu estava fechado, não havia ninguém para me informar.

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Mas caminhando pela trilha bem aberta encontrei as placas com as indicações recortadas no ferro. Não tinha como errar o caminho.

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 Quase sob o enorme rochedo o chão tem blocos de pedras que formam grutas pequenas.

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 A subida para o paredão ficou mais íngreme e um cabo de aço ajuda a subida, tanto dando apoio como servindo para nos içarmos melhor.

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Então, sob a parede de granito, aparece uma passarela que permite apreciar com vagar as apagadas figuras que representam o imaginário daqueles irmãos do passado.

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Um desenho que parece uma espinha de peixe feita com precisão de ângulos, o que significa?

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Figuras geométricas – como o quadrado com um circulo dentro – talvez seja um pedido para que Tupã, ou que nome tivesse seu deus, protegesse um bem precioso, como a família.

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Triângulos arrumados e enfileirados parecem bandeirinhas pintadas por um Alfredo Volpi do distante passado.

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 Estava só e o paredão tem muitas casas de marimbondo e as mangangabas fazem toca nos buracos, então o zumbido dos insetos me deixava inquieto. Já pensou ser atacado ali, longe da cidade e de casas, por um enxame de marimbondos? Deixei aquela exposição perene ao ar-livre e desci.

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Peguei a bicicleta na entrada e pedalei voando pela descida forte. Porém, uma trovoada longe me fez levantar os olhos e ver a cortina de chuva que se aproximava.

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Adeus meus irmãos, artistas de um tempo tão longínquo.    

publicado por joseadal às 23:31

Março 17 2015

Os gregos haviam descoberto há muito tempo: mente sã e corpo são.

Quando neste domingo, 15/03, entrando para o bloco dos alienados que não foram a manifestação contra o PT, subimos pedalando a serra da Bocaina precisamos fazer uso dos dois. Valeu o conjunto corpo-mente.

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Com a força das pernas e braços levamos nossas bikes de 500m para 1200m de altura. O vale em que começamos pedalando foi ficando, a cada curva da estrada, mais lá embaixo.

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Até aí tudo bem. Tendo determinado subir muito e com o corpo descansado fomos apreciando a beleza do mundo natural a volta. Quando chegamos ao alto da serra, especialmente os rapazes que não enfrentaram desafios fortes com a bicicleta, parecia que alcançáramos o objetivo. Ledo engano.

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O alto de uma serra parece com um vaso de planta. Igual a uma formiguinha vamos subindo e quando passamos a beirada entramos na terra do vaso com suas plantas.

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Assim foi, logo depois da virada da serra vem uma boa descida de 6km e então chegamos ao largo do Brastel, onde paramos numa pousada para hidratar. Hidratar é o codinome de “levantar copo”. Porém, o planalto da serra tem várias subidas, pequenos picos. E quando começamos a subida empedrada com o corpo já cansado e com a mente despreparada para mais aquele esforço, deu desânimo.

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Os novos ciclistas voltaram pensando nos poucos quilômetros de subida que precisariam pedalar para chegar ao topo e finalmente descer livres. Mas nós, ciclistas mais antigos tínhamos o compromisso de chegar no sertão da Onça, ver a cachoeira e nos juntarmos aos colegas que subiram de carro.

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Bem, se a mente não está preparada para o esforço e o corpo “está pedindo pra sair”, o que resta? Ah, quem se exercita regularmente e já passou por outros desafios tem “um trunfo na manga”. É por este trunfo que um fuzileiro naval treina a quase morrer, a memória muscular. Coisa fantástica, é um fato extra na ligação mente-corpo. É só não desanimar, continuar pedalando, focando vencer a subida e de alguma forma os músculos doidos encontram um velho arquivo em sua memória e parecem dizer:

- Cara, o Zé, hoje, tá fazendo um pedal igual aquele que ele fez de Lima Duarte para o Parque de Ibitipoca. Vai ser brabeza, vamos dar tudo que temos!

E eles nos levam.

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Então, não perca sua regularidade em tudo que faz: seja trabalho, frequência a Igreja ou acompanhar o filho nos estudos. Porque essa diligência vai criar uma memória, o hábito, que vai te ajudar na hora que o corpo e a mente não conseguirem te levar.      

publicado por joseadal às 11:18

Março 16 2015

Meu amigo João Alencar, em sua simplicidade que torna a amizade bem fácil, descendo a serra da Bocaina, abaixo da metade, olhou para cima, e vendo lá nos altos os picos até onde subimos e andamos, disse: Quero tirar o chapéu pra mim mesmo. Olha até onde fomos!

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Realmente foi um belo e tremendo desafio, subir da altitude de 538 m à 1212 m só com a força do corpo. Mas que belas paisagens vimos pelo caminho.

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Picos que estavam lá em cima, logo ficavam abaixo de onde estávamos.

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Cachoeira que despenca lá das grimpas, em pouco estávamos na altura dela.

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E a exuberância das matas enfeitadas de quaresmeiras nestes dias que antecedem à Paixão de Cristo!? Parece que toda Natureza, já que nós humanos numa vida cheia de preocupações quase não lembramos, se dá conta dos últimos dias de Deus na Terra e se veste lindamente de roxo,

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como refletindo sobre o maior acontecimento que aqui se deu.

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Foi espetacular a experiência de subir a Bocaina, que o digam os amigos Márcio e Paulo. 

publicado por joseadal às 11:15

Março 16 2015

Estou bem atrasado, mas que se há de fazer, não podia deixar de registrar meu apreço pelas mulheres, entre elas todas Lili e a minha Vermelhinha.

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Aqui preciso fazer uma ressalva: por anos andei numa bike que, sinceramente, não podia chamar de magrela. Rodamos juntos por mais de 50.000 km de estradas, de preferência subindo e descendo serras. Ainda hoje pedalamos juntos em meu trabalho pela cidade. Mas, convenhamos, com seu porte alto e forte, tinha uma aparência masculina. Agora, com a Vermelhinha sinto que estou andando com um objeto de aparência feminina. E isso é muito importante, refiro-me a companhia feminina.

Algo semelhante aconteceu na Igreja Cristã. Em seu livro No Coração da Igreja, Felipe Aquino, transcreve um sermão de Efrém, o Diácono (306-373) que revela ser a veneração de Maria comum entre os cristãos por volta de 350: “A divindade ocultou-se na humanidade. Foi por isso que desceu ao ventre da Virgem, para tomar um corpo que o conduzisse a Mansão dos Mortos. Floresceu Maria a nova videira e nela habitou o Cristo”. Os homens e mulheres, todos nascendo de mães, precisam em sua relação com o espiritual de uma companhia feminina, a Mãe de Deus.

Preciso registrar também a bravura das mulheres que soram ao Sertão da Onça no alto da serra do Mar. Foram guerreiras, mas com feminilidade.

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Quando vivemos sob, e com profunda amizade, a influência de uma mulher nos sentimos muito melhor.

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É assim que pedalo agora, com redobrada alegria por ter como companhia uma magrela bem feminina. Viva as mulheres, viva Lili, vinha minha Vermelhinha.    

publicado por joseadal às 10:52

Março 09 2015

O que um pai pode fazer junto com o filho?

- Ora, Zé, um pai e seu filho podem fazer tantas coisas juntos! Assistir um jogo de futebol no estádio, por exemplo.

Neste domingo, 08/03/2015, Luciano e João

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e Welligton e Erick.

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Passaram o dia todo juntos, desde 6 h da manhã até 9 h no carro indo para Piabetá, e por 7 horas pedalando. Subimos a serra da Estrela.

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Pedalamos no caminho velho para Petrópolis passando por dentro da mata Atlântica que cobre aquelas serras.

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Foram 3 horas com muitas paradas para fotos, tanto dos cumes da serra, como o Mamute,

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como do vale da Baixada Fluminense com a baia da Guanabara ao fundo.

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Paradas para hidratar ou, simplesmente, se deleitar com a paisagem.

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Porém, mais bonito foi ver os pais e filhos desfilando pelas ruas da cidade Imperial.

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Fazendo poses ao lado da réplica do 14 Bis de Santos Dumont,

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apreciando a bela catedral,

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visitando a casa do inventor

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e a universidade Católica.

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Mesmo sendo um domingo dedicado as mulheres e mães, nosso pedal foi um dia perfeito para os pais e seus filhos.

publicado por joseadal às 00:29

Março 03 2015

Um caminho que ainda não se passou é um desafio. Mas por que passar por uma estrada desconhecida? Não é tão melhor andar por onde já conhecemos bem? Não será uma vaidade do espírito, um orgulho, avançar pelo desconhecido?

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Quando eu e o amigo João Ademar paramos na entrada do Parque Estadual Cunhambebe, olhando o caminho que se perdia entre as serras, sentimos o que? Eu sou o bom, sou o tal, vou afrontar este sertão? Não, quedamos humildes, reverentes e ao mesmo tempo ansiosos de ver mais da obra de Deus. Pode acreditar, aquela trilha subindo para os picos da serra do Mar nos fez respeitosos. E tocamos por ela.

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A serra do Matoso foi um caminho que os desbravadores dos tempos coloniais encontraram para ultrapassar o cinturão de serras que cercam o Rio de Janeiro e chegar ao interior da nova terra que exploravam. Por todo caminho vimos alicerces de pedra de antigas casas de fazenda.

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É um lugar em que a mata Atlântica ainda tem bons pedaços intocados e a água brota de incontáveis minas e cruzam a estradinha. Cachoeiras e cascatas enfeitam as matas. Credo, parece até enredo de Escola de Samba! Se você olhar bem esta foto vai ver quatro bikes deitadas na segunda pedra à direita. Lá por cima encontramos mais de quinze ciclistas.

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Quando planejei o caminho o Google me deu 20km de trilha entre os altos picos. Mas me enganou, foram 35km de sobe e desce no meio da beleza selvagem. Daí a vantagem de se sair bem cedo. Quando chegamos ao Rancho do Cláudio – lugar lindo e cheio de atrativos escondido no meio do sertão – já rodáramos 85 km e não era meio-dia.

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Quando finalmente a gente sai dos grotões da serra do Mar, recebe-se um choque ao ver o mundo quase um quilômetro lá embaixo. Toda Baixada Fluminense enche os olhos da gente.

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Uns motoqueiros que encontramos nos disseram que há muitos caminhos lá por cima e me detalharam três deles. O que passa pelas represas é muito cascudo e ele avisou - só pra botar medo na gente -: Mas vão com mais ciclistas porque ali tem muita onça!

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Então, já fique sabendo, vou voltar a serra do Matoso para andar por outros caminhos desconhecidos.   

publicado por joseadal às 11:39

Março 02 2015

Ontem, 01/03/2015, acordei bem cedo para pedalar. Depois de tomar café completo e dar o papa de Malu, saí com ela no passeio matinal. Ainda estava escuro e o céu coberto de nuvens. Em caso assim sempre faço uma oração: Senhor meu Deus, peço que limpe o caminho por onde vamos passar para ver sua criação.

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 Quando, com meu amigo João2010, rodamos para a Dutra nuvens escuras se destacavam no céu que começava a ficar azul-escuro. O dia clareou depois de passar o bairro Roma. Antes do guerreiro dourado, nosso estrela, aparecer fotografei-o ainda  escondido pelos morros.

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Para os lados de Rio Claro, para onde íamos, nuvens carregadas despejavam água. Repeti minha prece e continuamos como se quiséssemos confrontar a chuva.

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Em Rio Claro tomamos café com bolinho-de-aipim e entramos ao lado da rodoviária pela estrada para Mangaratiba. Em cima da gente o céu era de um belo azul, mas para os lados da serra do Piloto nuvens ameaçadoras assustavam. Reconheci com admiração: Sob Vossa mão, Senhor Deus, estamos protegidos da chuva. E seguimos pelas subidas e descidas da estrada quase sem movimento de carros. Sinais da tempestade recente estavam por toda parte.

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As rodas quase aquaplanavam no asfalto bem molhado e com poças d’água da chuva que nos precedia e se afastava de nós como ao mando de uma poderosa força.

Com 60 km rodados vimos as serras do Parque Cunhambebe com uma tremenda subida.

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Sobre nós o céu estava espetacular. Mas a subida foi gradual, passando por entre os picos, e como ainda não dera 8 h o organismo da gente estava pleno para o esforço contínuo. Começamos a encontrar ciclistas vindo de diversos municípios.

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 Nuvens cúmulos vinham do mar e trepavam a serra, mas um vento forte levava-as embora. E aos 85 km chegamos a entrada do Rancho do Cláudio, um balneário restaurante com cavalo para andar, tirolesa para passar sobre o lago e gente alegre vindo de diversos lugares da Baixada. Só não servem cerveja.

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Continuamos para a rampa de parapente e para Itaguaí. Ainda rodamos muito subindo e descendo. Foi no km 95 que, numa descida, entre as árvores, vimos o vale se espraiando. Paramos na rampa cheia de gente com corajosos aventureiros saltando para o vazio segurados por um vento forte.

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Mas tínhamos hora para chegar em Itaguaí, com as passagens de regresso nos bolsos.

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Voltamos felizes do longo pedal de 116km vendo outras obras da Criação do Pai, o poderoso Senhor das tempestades.  

    

publicado por joseadal às 12:08

Março 02 2015

As fotos são do pedal Serra do Matoso, hoje, 01/03/2015, 116km até Itaguaí. Foi muito bom começar bem cedo, às 4:30.

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“O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), pai do existencialismo, afirma que nós somos ‘feitos de angústia’ devido ao nada que nos constitui e à liberdade infinita que nos assusta”.

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São considerações do também filósofo, Luiz Felipe Pondé. Pense nisso um pouquinho: a liberdade infinita que nos assusta.

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Um dia, indo pedalando à Mangaratiba, na serra do Piloto, certifiquei-me do caminho para chegar à serra do Matoso. Então, isso não saiu mais da minha cabeça. Assim, depois de me organizar bem, fomos lá. Chamei os ciclistas e, fora meu amigo João2010, ninguém quis se aventurar.

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Comentando o fato com o amigo Peixe ele deu uma explicação: 

- Zé, o pessoal queria saber quantos quilômetros, se sobe muito e que hora vão voltar.

Eu também, e fui atrás das respostas. Mas o grande problema é outro, é “liberdade infinita que nos assusta”. Tem gente que até “entra no labirinto”, mas como Teseu precisa ter uma corda que o ligue a seu cotidiano. Dai as perguntas: vai demorar muito? Vou fazer muita força nas pernas? Tem jeito certo de voltar?

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Gente ‘feita de angústia’, dê largas a liberdade! Faça como os caras que se inscreveram para ir a Marte sem volta. Eu, por exemplo, fui marinheiro de Pedro Alvares Cabral e nunca perguntei a ele: Tá longe ainda?   

publicado por joseadal às 01:29

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