bikenauta

Fevereiro 20 2011

Quantas coensidências se encontra entre os desportistas, aquelas pessoas que amam um esporte e dedicam tempo à ele. É o que estou lendo surpreso na biografia de Élio Adriano, imperador romano: "Se pudesse escolher a vida que teria no mundo dos deuses optaria pela do centauro. Entre mim e meu cavalo Borístenes o entendimento era de uma precisão matemática. Lançáva-me num galope a alta velocidade sob o sol e o vento sabendo dos riscos de um erro. Mas o prazer era intenso demais  para que eu lamentasse um ombro desolocado ou uma costela partida". É como o ciclista e sua magrela descendo a sessenta por hora numa estrada cheia de pedras e buracos. A agonia do perigo e os limites do possível são atraentes demais.

E na hora do rango, seria o imperador diferente do ZéPedal? "Saboreei numa sórdida espelunca em Égina, a despeito do ambiente imundo da taverna, uma refeição tão gostosa que parecia ter um sabor sacramental. O vinho inicía-nos nos mistérios vulcânicos do solo e nas riquezas minerais ocultas na terra. Uma taça do simples Samos, degustado ao meio-dia ou saboreado numa noite de inverno, num estado de fadiga, espalha um fluxo abrazador pelas artérias e nos dá uma sensação quase sagrada". Quem não se lembra do saboroso macarrão que a alegre e trabalhadora dona Marilda fêz às dez horas da noite para os famintos ciclistas que vinham de Ibitipoca?

E a água, o refrescante líquido da vida? Teria o imperador de Roma o mesmo gosto do simples ciclista que se curva para beber água de uma bica natural? "A água bebida na concha da mão ou na própria fonte faz correr em nossas veias os sais da terra e a chuva do céu".

O imperador Adriano em seu cavalo andando e correndo por horas e horas não pensava ou sentia diferente de mim, o ciclista Zé Adal correndo o dia inteiro sobre sua bike. Como disse o poeta: somos todos iguais esta noite.

publicado por joseadal às 16:03

Fevereiro 06 2011

Este lugar em que moramos é um grande museu ao ar livre sobre o meio século em que o café foi o ítem mais importante da economia do país e do estado do Rio de Janeiro. Andando de bicicleta pelas estradas da região vemos as imponentes construções erguidas num tempo em que não existia cimento nem casas de material de construção. As casas-grande se multiplicaram pelos caminhos longe das sedes das cidades. No estado do Rio o café foi um negócio que não se sustentou, durou de 1830 até 1880, mas deixou ricos e belos casarões. As datas que aparecem nos frontões é do auge da produção de café, a década de 1860. Suas formas variam conforme a cultura de seus propritários e as sacas que suas terras produziam.

Com sua mania de normatizar tudo os arquitetos e historiadores tentam encaixar os casarões em cinco estilos. No livro os estilos são bem descritos e começa pelas mais simples.

Antes, uma consideração. O ciclo do café no estado do Rio sucedeu a criação de gado e plantação de cana de açúcar feita sem nenhuma ambição de exportar. As poucas casas de fazenda eram pequenas e atarracadas. Quando os cafezais começam a produzir não há mãos a medir para plantar e colher para o mundo todo. Então, não se vê uma evolução na forma de construir. As novas casas-grande seguem o estilo da época, os oitocentos, e as velhas casas são jogadas abaixo, se o local em que estão é previlegiado, ou simplesmente contróem-se novas em outro ponto das terras. Poucas são reformadas e a maioria se acaba.

Em uma trilha chamada Cafarnaum, que vai de Barra Mansa para Rancho Grande, distrito de Bananal, São Paulo, vê-se um casarão do estilo dosvelhos tempos. Um só andar suspenso do chão, o porão aproveitado para guardar materiais.

 

 

Uma variante é o varandão tomando toda a frente da casa-grande que continua com um só andar. Esta, no alto da serra de Bananal tem lareira na sala com assoalho de largas tábuas corrida bem rústicas.

 

Logo os casarões ganham um segundo andar por onde se sobe por uma bela escadaria. Esta é a fazenda Santana da Cachoeira toda reformada com muito capricho. Fica numa estrada vicinal entre Barra Mansa e Quatis.

 

Daí os arquitetos acrestam uma cobertura na porta de entrada, um alpendre, que tanto protegia o visitante que batia e fica esperando que abrissem a porta, às vezes sob chuva forte, e para proteger a própria porta contra as intempéries.

 

Mas o dinheiro entrando a rodo, o proprietário sendo mais culto (como era o caso do barão de Barra Mansa) e contratando e ouvindo as sugestões do arquiteto vindo da Europa surgem casas de fazenda deslumbrantes como a fazenda Criciúma no velho caminho de Barra Mansa para o distrito de N. S. Amparo.

São tantas e tão variadas que classificá-las em cinco tipos é uma simplificação. O fato é que andando de bicicletas por estes caminhos a gente se demora olhando e imaginando o esforço, o suor e os sonhos de tanta gente que realizaram essas belas construções.

publicado por joseadal às 22:34

Fevereiro 04 2011

Na trilha do Professor, também chamada de trilha do Rastro tem gravado numa pedra a forma de um pé, um rastro. Todo ciclista que passa ali pela primeira vez tem de ouvir a estória, a lenda, de como se formou aquela marca na pedra. Mas a geologia dá outra explicação para a formação desta marmita, sim, porque é este o nome que os estudiosos das pedras dão a estas marcas.

"A Marmita é formada pelo desgaste da rocha pela água. Ela é muito comum em cachoeiras e se forma nas cheias, quando a água do rio, carregando grãos de areia, circula em pequenos redemoinhos sobre as rochas, gerando o seu desgaste".

Pronto, uma intrigante lenda de um mau filho que batia no velho pai e foi desintegrado por um raio deixando a marca do pé feio, com o qual chutava o pai, gravada em baixo relevo na pedra, foi para cucuia.

Aí vem João Bosco e diz: mas ali não passa rio nenhum e muito menos tem cachoeira!

Não tem agora, mestre João, diz o professor e nos dá uma lição do intemperismo.

"O que é Intemperismo? É o conjunto de fenômenos químicos, físicos, biológicos e antropogênico que provocam a alteração das rochas e seus minerais. No processo físico, a água desgasta lentamente as rochas pelo atrito. No químico, a água das chuvas, combinada com o dióxido de carbono do ar ou do solo, torna-se ácida, provocando a dissolução das rochas. No processo biológico temos a ação de bactérias, algas e protozoários, fungos e liquens, plantas e animais".

Todos estes são ao mesmo tempo parte e agentes da parte da Natureza que cuida da homogeneação das coisas. São forças ou senhores denominados por uns de Zeus e por outros de Ogum, quem pôe ordem no mundo.

Mas e o rio que não existe. Não existe mais, você quer dizer. Lembra das trombas d'água nas serras no entorno de Friburgo neste início de 2011? Gente que viveu em um lugar por muitos anos não o reconhece mais. Onde havia um campo de futebol agora é parte de uma encosta, o rio que passava aqui passa lá e onde se via casas agora está semeado de blocos enormes de pedra. No seu afã de igualar tudo a Natureza nivela montanhas ao chão e tirou do caminho difícil na serra da Carioca, em Rio Claro, o rio e a cachoeirinha que fez a marca do rastro ou a "marmita" nesta pedra. (foto de JBosco)

publicado por joseadal às 13:36
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