Perdi um documento. Ficar sem algo que nos pertence deixa uma triste emoção no coração. Felizmente perdi minha habilitação de motorista na pequena vila de Ribeirão de São Joaquim. Assim, com muita esperança de recuperá-la, avisei da minha perda e deixei meu telefone com a telefonista do único telefone público da vila. Ainda assim passaram-se 10 dias antes de receber a boa notícia de que fora achada. Na realidade junto tinha caído R$14, mas estava satisfeito com o aparecimento da habilitação. A telefonista avisou: Sr. Joaquim, quem encontrou, quer lhe entregar pessoalmente. Coencidentemente havia marcado um passeio ciclistico para conhecer um outro caminho que leva ao simpático lugarejo.
(foto do amigo Fabiano)

Hoje, 10/04/2011, com uma manhã fresca e coberta de nuvens, saímos para procurar o caminho. Minha fama de buscar trajetos novos causa nos colegas duas conflitantes sensações a meu respeito: ora sou o Zéadal bonitim ora sou o Zéadal fdp. Mas estavam lá, no ponto de encontro, cinco corajosos desbravadores. O amigo Fabiano foi logo colocando os pingos nos is: onde vamos nos perder hoje "seu" Zé? A confiança que conquistei está nesse nível! Seguimos o conhecido asfalto para Amparo e, depois de uma parada, continuamos. Subimos a Mutuca e depois da descida, numa curva, entramos à esquerda. É como eu gosto, um caminho por onde nunca passei. A manhã estava ideal para pedalar, só a tempestade que desabou na noite anterior deixou o caminho fora dos padrões de Jorginho.

A trilha é bem técnica com boas subidas em terreno recortado e descidas violentas, tudo que um praticante de mountain bike quer encontrar e que Marcinho não aprecia muito. Uma característica que me encanta é andar pelo alto dos morros vendo um vale se esprair de um lado e grotões misteriosos do outro. Os espigões da serra de N.S. do Amparo flanqueavam nosso despregado correr.

Com 3 horas de pedal chegamos ao vilarejo. Em realidade, descobrimos que não era um novo acesso à Ribeirão, era tão somente uma variante entre dois caminhos. Saímos na estrada Amparo-Ribeirão quase defronte ao atalho do quilombo de Santana.
No caminho, conversando com Edinho, discutimos um meio de premiar o homem que encontrou e mantinha meu documento. Não podia ferir os sentimentos dele. Também consideramos o porquê dele querer me entregar pessoalmente o objeto. Depois de uma cerveja gelada fomos para o local do almoço que, num lugar tão pequeno, era vizinho a casa de "seu" Joaquim.
Ribeirão começou a se formar em 1827, mas nunca passou de meia duzia de pequenas ruas. Os moradores são aparentados e descendentes de 3 famílias de antigos "coronéis". Assim, não foi grande surpresa encontrar um senhor simpático e alegre que me chamou para a varanda de casa e me abraçou. Joaquim de Souza que foi roçador de pasto, pai de 10 filhos e 36 netos e agora trabalha no posto de saúde e é diretor do orçamento participativo dali, contou inúmeros 'causos' até que finalmente abriu a carteira e tirou dela minha habilitação junto com o dinheiro. Assim é a ombridade dos homens de gerações passadas.

Conversamos como antigos amigos e como está construíndo um muro doei a quantia para ele comprar um saco de cimento. É uma alegria encontrar, cruzando nossa vida, um indivíduo com integridade e caráter.
Almoçamos na casa de "dona" Katia, nora de seu Joaquim. Desta vez teve sobremesa: um gostoso queijo de Minas com goiabada que Cadu quase comeu todo sozinho.Edinho, muito esperto comprou um queijo para levar pra casa.

Retomamos nosso passeio ciclístico fazendo um longo circuito por Quatis e pela fazenda Santana do Turvo. Desfrutamos da amizade que a cada pedalada mais se fortalece, conversamos muito e fizemos um forte exercício por 8 horas.
Mais uma semana correu célere, quase sem nos darmos conta, mas com nosso esporte o tempo passa deixando lembranças felizes, marcos que balizam nossa existência. Fazendo com que valha a pena viver e aumentando nossa coleção de trilhas sem, felizmente, nos perdermos.