bikenauta

Junho 28 2011

Fui pedalar com meu filho caçula, Márcio Aurélio, no entorno da serra de São José, num distrito afastado em Itaborai. O lugar guarda mistérios e energias estranhas.

Antes, pesquisei sobre aquele recanto. A serra não é resultado de um vulcanismo, as rochas antigas foram empurradas para cima no que os geólogos chamam de "orogênese ", o forte tranco provocado pelo choque das placas tectônicas da África e da América do Sul quando se formou o supercontinente Rodínia. Mas ao norte, ao pé da serra, formou-se uma bacia, uma grande depressão, seu fundo abaixo do nível do mar. Com o rolar dos séculos ela foi sendo aterrada por todo tipo de sedimentos, em especial por toneladas e toneladas de carapaças de caramujo formando um rico depósito de calcária. Por muitos anos, durante o século 20, a Bacia de São José foi explorada pelo Cimento Mauá, que ao abandonar a mina deixou aberto um lago muito fundo. Enquanto arrancavam o calcário estudantes e professores de paleontologia recuperaram dali inúmeros fósseis que contam dos animais monstruosos que rondavam a serra e a depressão, como tigres de dente de sabre e preguiças gigantes. O acervo está no pequeno museu do local.

Foi com a impressão de grandes cataclismos e enormes feras rondando nossa imaginação que andamos quase 50 km conversando muito, como só pai e filho amigos sabem fazer.

publicado por joseadal às 23:26

Junho 24 2011

Lili falava, hoje de manhã, sobre metamorfose, a lagarta e a borboleta, solução maravilhosa da natureza para de um ser feio sacar uma criatura tão bonita. Uma obra clássica da literatura, o Médico e o Monstro, fala exatamente dessa dualidade em cada um de nós, o bonito e o feio, aspectos que surgem e nos transformam. É assim mesmo, a gente é de um jeito e de repente parecemos outro. Aconteceu com meu amigo José em pleno feriado de Corpus Christi. Se você quiser ler vou contar como foi.

Nesta 5ª feira um grupo alegre de ciclistas saiu de Volta Redonda para fazer um “pedal asfáltico” até Santa Rita de Jacutinga, MG, 110 km. Meu amigo, homem responsável, com quatro dias de provas difíceis pela frente, decidiu voltar de N. Sra. do Amparo. Discretamente deixou os colegas seguirem no passeio e parou. Senhor organizado, ele havia planejado regressar por outro caminho. Pegar a estrada para Quatis até a fazenda Santana do Turvo por onde seguiria à esquerda até a trilha do Peixe e daí a sua casa. Mas não foi o que ele fez. Neste mapa do Google Earth estão marcados Amparo, a fazenda e o lugar onde José estava parado.

Enquanto estava ali, na entrada do caminho para Ribeirão de S. Joaquim, uma sutil transformação aconteceu com meu amigo. Começou por sua cabeça. Ao invés de seguir pelo trajeto planejado decidiu procurar outro caminho para a fazenda. Ouviu falar dele, mas nem sabia ao certo se existia tal ligação. No seu normal José não faria isso, sujeito sensato que é. Mas ele estava sofrendo uma metamorfose, transformava-se em Zé Perdido. Esta é a última foto que temos do fraterno amigo em sua roupa de ciclista neste dia santificado.

A intenção do outro era procurar um atalho, de preferência uma reta, ligando onde estava à Santana do Turvo. O caminho que ele tomou era uma senda estreita que servia vários sítios. Depois de ultrapassar porteiras e abrir cancelas passou a pedalar por trilhos em meio ao pasto aberto. Uma casa branca indicou o começo de uma boa estrada de chão. Mas para o tal isto era o que menos importava. Tomou à esquerda e pedalou até encontrar um sitiante que por acaso era vizinho de José. O homem explicou que a estrada logo acabava e começava uma trilha difícil onde teria de atravessar um riacho. E fez uma revelação que transtornou de vez a cabeça do tarimbado ciclista: o Sr. vai sair perto do Quilombo de Santana! Quem seguiu pra diante não era mais o ancião que tinha de chegar logo em casa para estudar. Era um aventureiro, alguém que não media consequências, era Zé Perdido. Nesta foto ele atravessa o córrego em sua bike. Ah, sim. Esse ente fantástico não pode ser visto. Há quem diga que é tão belo que encantaria todas as donzelas e outros há que afirmam ser ele de uma feiúra horripilante.

Varou capinzais, atravessou outros riachos e se arranhou em matas fechadas. Mas com a sorte dos loucos estava de novo numa estrada de terra. Dali avistou o viaduto da ferrovia do Aço, em Quatis, e tirou uma foto dando gargalhadas. Murmurava que Fabiano ficaria cheio de inveja por nunca ter fotografado aquela obra de engenharia por este ângulo.

E, com a velocidade de um Jorginho, num instante estava sob as colunas gigantes. Se fosse o amigo José tomaria o caminho da Dutra e pedalaria pelo asfalto. Mas não, o desmiolado seguiu outro trajeto. Também não foi o preferido do colega João Bosco, não. Ele pensou na trilha de Dona Marina, mesmo sabendo que a ponte tinha caído. E foi. Num piscar de olhos, tão rápido quando Rogério Tatu ele estava no alto da serra de São José fotografando o viaduto de um ponto de vista completamente diferente.

Desceu voando o antigo caminho tão percorrido pelo Clube Adventure e que os novatos no mountain bike nunca trafegaram. Tirou esta foto dele mesmo sentado na bike enfrente ao curral. Não dá pra ver o dito.

Passou pelo rio do Peixe atravessando-o duas vezes por causa da ponte destruída. A casa grande da fazenda Criciúma parecia mais desolada com a passagem do Zé Perdido. Nem mestre MP faria o percurso do Peixe mais ligeiro que este sujeito. Até agora o amigo José não tem noção de como chegou a casa e, finalmente, debruçou-se sobre suas apostilas.

Lembro uma história ralatada pelo amigo Pedrão. Sua mãe contava que é o Gênio Mau que mora dentro das garrafas de pinga que leva o biriteiro em casa, dizendo: Eu te trouxe são e salvo para poder te pegar de novo amanhã, ahahahahah. Vade retro, Zé Perdido.    

publicado por joseadal às 18:35

Junho 21 2011

Uma obra prima de Deus. São expressões simplificadoras, um jeito de descrever em poucas palavras a alegria que enche o coração da gente diante de um espetáculo lindo. O começo da manhã de domingo, 19/06/2011, neste quase inverno, estava frio e seco. Estivéssemos enrolados no cobertor e trancados no quarto não assistiríamos o deslumbrante acordar da montanha vestida de verde, coberta com um manto azul enorme e iluminada pelo sol. Paramos os carros, saltamos com as câmeras digitais em punho. Cada qual procurando o ângulo melhor para registrar aquela maravilha. Nem Napoleão, vestido e paramentado em sua coroação, estava tão belo quanto esta montanha.

Corremos para Bananal, tiramos as bikes dos carros, tomamos um café da manhã bem quentinho e andamos pelas ruas de casarões antigos saindo da bela cidadezinha. Então corremos como uma tropa alegre e brincalhona de cavalos selvagens.

Quanto mais nos aproximávamos dos pés da serra mais aumentava nossa expectativa. Admiramos a cachoeira da Usina e tocamos para adiante começando a subida. Quinze homens, cada qual com seu ritmo de pedalar, em pouco estávamos espalhados pelas contínuas voltas da estrada asfaltada. Pedrão gritava, para os colegas e todos os animais que nos espreitavam da mata, seu brado de pura alegria: seelvaaa! Chegamos ao Km 12 com sua bica de água gelada.

Despidos dos agasalhos e camisas de baixo continuamos para vencer trezentos metros em três quilômetros. Ao lado direito, aparecendo e desaparecendo a cada volta da serra, a cachoeira da Água Branca acompanhava nosso esforço. Afinal, pensei enquanto respirava forte, que rio era aquele que ao invés de descer a Bocaina rolando por sobre as pedras, como nós em nossas bicicletas, se despencava lá de cima com uma pressa doida de chegar ao mar, tal qual Jorginho e Rogério Tatu que sumiram nas quebradas da serra.

Chegar ao Km 15, a mil metros acima do nível do mar, é como passar em um vestibular. Diante da bifurcação em que o asfalto seguia à direita e a estrada de chão empinada nos desafiava à esquerda escolhemos esta. Agora era subir 400 metros em cinco quilômetros, moleza.

A placa ao fim da subida anunciava que as 7 Quedas estavam próximas e logo o rumorejar das cascatas nos fez apear, deixar as magrelas deitadas na grama e nos recostarmos nas pedras. Estávamos na primeira queda com a água fria de doer descendo o tobogã e formando uma convidativa bacia. Uns três gatos pingados mergulharam voltando para as pedras dizendo que estavam sentido calor. Não, tem uns caras que só internando!

Depois foi voar pelos 15 km de descida cheia de curvas alucinantes. No pé da serra pedalamos sem olhar pra trás, correndo para o almoço e depois para o aconchego da família. Ela, a montanha, vai continuar lá, com suas águas rolando e cantando como fazem desde antes de ter humanos na Terra e bem depois de não estarmos mais aqui.  

   

publicado por joseadal às 00:35

Junho 15 2011

Um bom mestre é aquele que além de informações técnicas ensina seus discípulos os segredos da vida. Jesus era assim. Certa vez ele disse (palavras que salvam): “Sejam astutos (maldosos) como as cobras e sem maldade como as pombas”. O mestre usou uma aparente contradição para nos fazer pensar: seja maldoso, mas sem maldade.

É com o correr da vida que vemos ou ficamos sabendo de como situações corriqueiras podem virar um acidente. É por isto que as crianças precisam ser protegidas porque sua lista de informações sobre maldades ainda é muito pequena. Mesmo um homem bem vivido, com seus sessenta e tantos anos, precisa estar sempre atento e aprendendo, adicionando fatos a sua lista e se tornando mais maldoso – conhecedor de maldades – e mais precavido delas.

Para se aprender temos de ver ou ficar sabendo de um evento trágico, de um mal que sobreveio a alguém. O inocente que sofre um dolo, um ferimento grave ou a morte e que com seu sofrimento acrescenta astúcia e sabedoria a nossa vida é chamado, um exemplo. Nosso colega de pedal, Antonio Bertolucci, não terá morrido em vão, será um exemplo, se aprendermos com ele a ser mais maliciosos. Com ele aprendemos outro perigo, outra maldade que pode nos sobrevir. Quando andamos de bicicleta nas ruas de uma cidade grande precisamos estar atentos como uma serpente. Bem encostado ao meio fio e ao mesmo tempo evitando a maldosa valeta que se forma com o acúmulo de camadas de asfalto, temos de ver o que vem logo atrás, o perigo que se aproxima ao nosso lado. Um ônibus ou um caminhão é um risco grande. O motorista deve se afastar do ciclista, passar a pelo menos um braço bem estendido da gente. Mas a maldade nos faz vigiar sua aproximação e se ele está muito perto o aconselhável é parar. Deixe o perigo passar e continue. Especialmente em curvas um veículo maior é como uma reta tangenciando um círculo, ele corta o espaço e, se deixarmos, ele corta a gente, tira nossa vida.

Antonio era mais velho um ano do que eu. Pena não o ter conhecido. Parece que pensávamos bem parecidos. Um homem que podia ir de carrão para o serviço e que preferia a bicicleta era uma pessoa antenada com as mudanças deste mundo. Oremos para que ele seja bem recebido na outra dimensão.

Mas não esqueça, querido amigo e aluno na escola da vida como eu, de ler as letrinhas pequenas que tem no nosso contrato de vida, tanto no meu como no teu: A fatalidade acontece a todos.   

publicado por joseadal às 00:05

Junho 12 2011

Voltar as 7 Quedas é um desafio e uma bela aventura. Quando ainda estamos longe, a uns 30 km, ela aparece majestosa como uma anfitriã aguardando os convidados.

Visitar as 7 Quedas não é como ir a um lugar só para ver as belezas do local, todo caminho revela um visual magnífico e grandioso. A cachoeira despencando lá de cima da serra, quando ainda nem começamos a subida, já é um espetáculo.

Então começa a subida forte porque de Bananal, a 600 m do nível do mar, até lá em cima, a 1600 m de altura se sobe 500 m a cada quilômetro. Sobe-se um prédio de 20 andares a cada 1000 m de aclive. De bicicleta, rodando com a própria força do corpo, é um exercício formidável que dá ao ciclista um orgulho de super-homem. A estrada vai dando voltas e a cada curva o panorama vai ficando mais vasto. Chegamos ao quilômetro 12 com sua bica d’água que no verão é um refrigério, mas neste outono frio só dá pra se admirar. O vale vai ficando cada vez mais lá embaixo e o caminho pelo qual passamos ainda a pouco é uma linha fina serpenteando entre a vegetação. Acima o céu costuma estar de um azul muito intenso. Olhe para cima, a serra continua imensa e nosso destino parece inalcançável.

Chegamos ao km 17, aqui a estrada se bifurca. O asfalto continua para o largo do Brastel com seu lago, pousada e uma encruzilhada de caminhos que varam o alto da serra. Mas nós tomamos o caminho da esquerda, chão de terra com muitas pedras soltas. Esta é a senda para a Estação Ecológica e para 7 Quedas. A inclinação é mais forte. O mundo fica lá embaixo e parecemos gigantes. Finalmente alcançamos o ponto mais alto do caminho apesar das encostas continuarem para muito além. Mas vamos descer e já dá para escutar o rumorejar do rio.

A vegetação é diferente, aqui ainda é o reino das araucárias. As sombras do bosque ao estilo suíço tornam a temperatura enregelante. Então, as placas indicam que chegamos. Descemos das bikes e as empurramos por um trilho até a margem da primeira queda, um remanso tranquilo e dourado e a primeira pedra que é um tobogã muito divertido.

O outro remanso é bom de nadar e termina numa beira de pedra natural que represa a água que cai para o terceiro remanso onde o barato é a ducha forte e estimulante. Mas não neste frio. O remanso raso só serve para ficar estirado quando é verão e o sol ainda está a pino. Da beirada se avista a terceira, quarta e quinta queda. A sexta se perde na mata.

Para se ver a sétima é preciso voltar às bikes e descer até a Estação Ecológica. Nos fundos dela, numa mata de contos de fada, com um caminho onde se pisa no musgo verde, chega-se ao pequeno lago formado pela sétima queda. É tudo obra da Natureza com um pouco de organização do homem, o senhor da ordem e da desordem.

 

Subir de novo até a virada é penoso, mas a descida de vinte e tantos quilômetros com o ar frio fustigando o rosto e congelando a ponta do nariz e os dedos das mãos, e a paisagem passando céere ao nosso lado é outro prêmio para quem tem coragem de subir às 7 Quedas.

publicado por joseadal às 13:59

Junho 05 2011

É isso aí, não tenho porquê esconder. Pela terceira vez enfrentamos o desafio de achar a encantada cachoeira do Juscelino e perdemos. Três a zero, é quase uma goleada. E nem vou tentar me desculpar como fazem alguns técnicos de futebol: a equipe deu o melhor de si, mas faltou oportunidade. Nada disso, tivemos todas oportunidades nos 90 minutos. Aliás, desde que entramos na trilha saindo do caminho para Santa Izabel do Rio Preto logo depois de passar São Bento até sairmos na estrada Amparo-Ribeirão decorreram duas horas e meia, 150 minutos. Tivemos todas as chances. Nem se pode falar da alimentação. Foi da melhor qualidade.

Quem não provou um almoço na casa de Dona Kátia e “seu” Quinzinho não sabe o que é comida caseira da roça. Nossa equipe é bem tratada, mas não fizemos o gol, quer dizer, não achamos a cachoeira por... nem sei porquê.

Informações sobre o time adversário, a cachoeira, dessa vez foram bem abalizadas. “Seu” Miguel Antonio com seu burrinho leiteiro e seus cachorros foi categórico: é só seguir em frente. E nos continumos com determinação: este jogo é nosso! Vai acreditando!

E o visual do campo, digo, a paisagem do local! Maravilhosa! O terreno naquele trecho é enfeitado de altos morros, belos vales, pedaços de mata (até com onça) e a estradinha subindo e descendo. A equipe estava empolgada. Repara só na confiança do amigo Araujo, primeira vez que entrou em campo, digo, pedalou com nosso grupo. Um corajoso ou um temerário.

Podem dizer que não fomos “pra cima do adversário”, que perdemos tempo. Mas convenhamos, pedalar não é só correria e quando chegamos à casa de seu Sebastião com seus grossos muros feito de Lages de pedra não conseguimos passar direto. Conversa vai, café vem, dar um “passada” no cavalo Anjinho, bom marchador como ele só, não podia atrapalhar nosso objetivo. Era como se a gente estivesse no intervalo regulamentar. Não digo que não, mas as histórias da onça comendo bezerros quase na porta da casa, pode ter mexido com a concentração do amigo Zé Araujo. Edinho não tem medo de nada, assim ele diz.

E bola em jogo tocamos pra cachoeira que “fica logo ali na frente, depois da decidona, entrando no bambuzal”; palavras do amigo Tião. Era o caminho do gol, você sabe, da cachoeira. E eu vi e ouvi, minha gente! Chegamos num alto, parei para tirar uma foto de um vale lindo, lembrei do Google Earth que indicava uma entrada a direita como aquela lá embaixo, o barulho da queda d’água chegando bem claro no ouvido da gente, estávamos na marca do pênalti. Mas quando cheguei lá em baixo fui voto vencido. Os dois colegas acharam que era melhor procurar mais pra frente. E mais pra frente acabou o jogo, digo, a bela trilha terminou. Nesta foto ela está escondida bem aqui no canto direito em abaixo.

Assim não pode, assim não dá, a cachoeira do Juscelino vence outra partida. Mas não desanimamos, ainda ganhamos dela, quer dizer, ainda vamos tomar um banho no remanso jóia que todo mundo diz que tem bem aos pés dela. Ainda ganho uma. Mas, enquanto isto, vamos comer um arroz doce que ninguém é de ferro.

publicado por joseadal às 22:14

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