bikenauta

Setembro 24 2011

Malu bem que se esforça. Levanto-a, coloco-a em meu colo com a barriga pra cima e aponto o dedo bem próximo ao focinho dela, digo: Olha "dona" Lua lá no céu, Malu. Ela olha na direção certa, parece até que está vendo o luarão bem cheio, mas então olha para um lado e outro tentando ver o que Adal está mostrando, e nada. Desolada olha pra mim, como se falasse: Não vi "dona" Lua, não!

Foi há muito tempo, muito tempo mesmo, nem mil anos, nem 10 mil, nem 100 mil, mas há quase um milhão que um jovem primata, diferente de seu bando, "viu", percebeu aquele disco pálido no céu. E demorou uns duzentos mil anos para outro primata, já bípede, andando meio curvado na beira de uma mata, erguer com dificuldade a cabeça para admirar a bola prateada solta no céu, cheia como uma fêmea prenhe e sentir no peito uma emoção nova neste planeta, veneração. Ele adorou a Lua.

Agora, depois de se passar 800 mil anos o ser humano, o primata mais evoluido, esperto e descrente, passa correndo no seu carro ou mesmo parado numa esquina está tão alheio quanto Malu ou outro animal qualquer, uma barata ou um rato, ao círculo mágico prateado que desliza vagarosamente pelo céu.

Mas têm uns poucos que como aquele antigo ser ainda empoleirado no galho de uma árvore erguem a vista e a "vêem", brilhante e linda. Foi um pequeno grupo desses caras "diferentes" que decidiram sair pedalando neste sábado, 13/08/2011, véspera do Dia dos Pais - dos 5 só eu procriei, os outros são jovens casados ou solteiros - para apreciar a lua cheia nascer.

Começamos rodando no meio da tarde fugindo do trânsito louco até os pneus das bikes começar a chiar na areia da estrada de chão. Rodamos subindo e descendo ladeiras, margeando pastos e atravessando trechos da mata Atlântica, como um bando em migração. Nosso destino era um vale entre colinas, um pequeno altiplano formado pelo riozinho Congo. Nós, os da bike, chamamos este caminho de trilha dos Sem-terra, pois atravessa uma fazenda desapropriada e dividida em lotes para várias famílias.

Andamos num ritmo bom e os 50 km foram vencidos em três horas. Já estava escuro quando voamos por uma descida e entramos no vale. Bem no meio, a estrada só desenhada no luz fusco da noite, paramos e levantamos nossos olhos para o céu. Não havia lua na vastidão sem nuvens. Comemos barras de cereal, acendemos os faróis e conversamos sobre isto e aquilo, mas ela, tal qual uma noiva, se demorava em aparecer. Um farol veio se aproximando no escuro e um caminhãozinho possou sacolejando, enquanto as mutucas começavam a incomodar. Sentindo a impaciência dos rapazes falei: Vamos tocando de vagar! Atravessei o vale adiante deles e quando na saída, numa elevação antes da descidona, parei a bike, apeei e olhei os faróezinhos riscando a noite, vi um clarão sobre a colina do outro lado do vale e gritei: Olha gente, lá vem ela!

Os cinco homens viram-na se mostrar devagar, como uma dançarina experiente que mostra uma pequena parte do corpo de cada vez e, aos poucos, diante de nossos olhos estupefados, ficou despida, maravilhosa e nua, linda e poderosa. Isto foi o que vi e senti, mas cada um teve sua impressão, buscou lá do fundo do coração e da mente antigas lembranças e sonhos. Cinco viajantes parados admirando o luar. Éramos uma modificação do homem, uma espécie que vai conquistar o planeta ou só uma variação da raça, um sub-grupo hiper-romântico, apenas uma degeneração do homo pós-moderno e que não vai sobreviver?

Como cantou Caetano:

Poetas, seresteiros, namorados,

Correi

É chega a hora de rever e cantar

Talvez, a derradeira noite de luar.

Sinceramente não sei, as únicas  certezas que tenho é que mês que vem vai ter Lua Cheia novamente e que outros ciclista vão pedalar para vê-la nascer.   

publicado por joseadal às 13:29

Setembro 20 2011

Nossa região, o sulfluminense, está a 110 dias sem chuvas. Para quem anda de bicicleta o inconveniente é a poeira levantada pelos carros que passam por nós. No tempo das chuvas é muita lama e uniforme molhado, mas estamos torcendo pela chegada delas, a terra está precisando.

Este domingo, 18/09/2011, amanheceu frio mas o sol subiu no céu cheio de vibração prometendo um dia quente. Os ciclistas começaram a chegar no ponto de saída bem antes da hora marcada. Havia no ar uma expectativa de coisas boas e largamos para uma volta de quase 80 km. Saímos do perímetro urbano e logo rodávamos pela estrada de chão coberta de uma poeira fina como talco. Pedaços do caminho brilhavam dourados entre as sombras da mata. (foto de Edinho)

Os pés empurravam os pedais enquanto as línguas falavam sem parar revelando detalhes dos passeios recentes. Dois colegas, Edinho e Ferraz, fizeram o caminho de Aparecida pela estrada dos Tropeiros e nos contaram as experiências de passar por cidades históricas com o casario bem preservado, como São José do Barreiro e Areias, e deram dicas importante para pedaladas por longos percursos, como usar duas bermudas acolchoadas, fazer uso de cremes e outras sugestões que nos fizeram rir um bocado.

O belo distrito Fazenda da Grama está cada vez mais aconchegante com o bar da Cascata com suas águas refrescantes, salgados e bebidas bem geladas e que a partir de 1° de outubro abre todos os dias e o restaurante de D. Ivonete, com seu belo ambiente, onde nos fortalecemos com um almoço delecioso. (foto de João Henrique)

Aí você pergunta: Mas e o esforço de pedalar?            

Não teve. Era como se estivessemos sentados o tempo todo numa mesa de bar jogando conversa fora e só o panorama a nossa volta mudava o tempo todo - matas, subidas, pastos e descidas vertiginosas. Em termos de grana custa tão pouco, até menos do que uma dose de wisque 12 anos que o Ferraz toma. E depois de uma pedalada assim, tão boa, precisa ver como os amigos ficam descontraídos e faladores. Então, se você estiver a fim de passar um dia feliz venha andar de bike com a gente. 

publicado por joseadal às 23:47

Setembro 11 2011

Carta a um amigo:

Vou te dizer o que penso a teu respeito. Não fique orgulhoso porque assim não serás quem penso que és. Da mesma forma não diga: este Zéadal é um tremendo puxa-saca.  Então me deixe dizer de uma vez: Te acho parecido com Cristo.

Que absurdo! – pode dizer alguém, mas não é. Paulo o apóstolo disse: “Sou imitador de Cristo”, ou, em outras palavras, sou parecido com Cristo. 1 Coríntios 11:1

Mas em que você, meu amigo, se parece com Jesus?

Primeiro: tuas mãos manchada de tinta de impressão remetem a imagem que temos do mestre, de um trabalhador. ele dizia “Eu trabalho até agora”, João 5:17.

Segundo: tua disposição de passar primeiro por onde nos quer levar e sempre que vê uma coisa bonita pensa logo nos amigos: eles vão gostar de ver isto. Com certeza você não é um fariseu que “não faz o que ensina”, Mateus 23:3.

Terceiro: tua tranquilidade, sempre ouvindo a destemperança dos que te acompanham e deixando para dar uma opinião bem depois.

Quarto: teu gosto de ler e falar animadamente das coisas da alma e da fé: “Todos se admiravam das palavras agradáveis que ele falava”, Lucas 4:22.

Porém, eu pensava, “mas tem uma coisa nele que destoa do comportamento de Cristo”, até que me ocorreu esta passagem da vida do mestre: “Quando Jesus chegou, já fazia quatro dias que Lázaro havia sido enterrado. Maria chegou chorando e disse: Se o Senhor tivesse chegado aqui na hora certa...” , João 11:17,32. Sim amigo, a gente marca um pedal e você chega atrasado, aí eu pensava, ninguém é perfeito, meu amigo, afinal, é humano. Mas se até o Cristo chegou atrasado, por que não você?

Tão homem comum como no dia em que te vimos, grande ciclista, empurrando a bike numa subida forte.

http://www.youtube.com/watch?v=AfNX33fLdUE

Então, hoje, 08/09/2011, dia de teu aniversário, quero te desejar muitos anos de vida e que continues imitando Cristo.

 

publicado por joseadal às 20:53
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Setembro 05 2011

Tem daquelas pedaladas que se denomina de light, ontem aconteceu uma dessas. Apesar de ter um objetivo cascudo, passar pela trilha do Rastro - subindo bastante até o alto da serra que serve de pano de fundo para a cidadezinha de Rio Claro - o grande motivo para deixar a família e sair de bicicleta na bela manhã deste domimgo, 04/08/2011, foi descontrair, jogar conversa fora em volta de uma mesa, fosse em plena rua ou no simpático restaurante de dona Ivete, lá na Fazenda da Grama. Nesta foto, observe a serra lá ao fundo.

E olha que tentação para trocar este refrigério da alma por um pedal tipo IronBike não faltou. Ainda no começo da manhã, quando chegamos ao primeiro bar, em Pouso Seco, encontramos Rogério, Michel, Pedro Eduardo e Gláucio que iam lá pra cima da Serra passar pela pedra do Bispo. Recusamos educamente: tão doidos! Onde vamos encontrar uma cerva gelada naquele sertão? Depois da foto regulamentar eles foram pra direita e eu, MP, Edinho e Leo pegamos o trilho apertado e acidentado que sobe bastante para a pedra do Rastro.

Um visual maravilhoso nos recebe logo ao virar de uma curva. Então descemos hora destrambelhados hora desmontados e com todo cuidado. Num instante estávamos no pé da serra e num piscar de olhos, sem luvas e capacete, tomávamos o sol da manhã e uma loura gelada com tira-gosto. Ô vida boa que Deus dá pra gente se procuramos por isto!

E o assunto que rolou tanto ali quanto no almoço foi a família. O jovem Leo contou como recentemente saiu da casa dos pais para morar sozinho - se bem confessou que ainda dorme lá umas duas noites por semana. Edinho explicou a experiência que fêz em casa para ver se a esposa e os filhos estavam prontos para morar em apartamento, fechou a chava a porta dos fundos e ninguém podia dar uma chegadinha no quintal - não aguentaram três dias. Marcus falou da viagem de recreio com a Lili (a dele), onde vão viver a nona Lua de Mel. E eu falei da minha Lili e dos dias calmos que temos vivido. Mas, veja bem, isto tudo bem longe dos abençoados lares.

No final das contas andamos 90 km, mas ficamos mais tempo prozeando que pedalando. Eta passeio que rendeu! E ainda conseguimos chegar em casa bem cedo, para ficar com a família. Ela é afinal nosso prumo e refúgio. Andamos por serras e matas, mas é em casa que encontramos o repouso do guerreiro.

publicado por joseadal às 23:36
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