Há 8 anos, quando comecei a pedalar, ouvi falar da serra do Funil,
em Rio Preto, MG. Fui postergando até que decidi subir lá com minha bike.
Comecei a me informar e ciclistas muito bons e com a metade de minha idade avisaram: é difícil, seu Zé, eu tive de empurrar.
Mas já subi a Bocaina, a Beleza, o Pacau e até o Alto Caparaó, o Funil não me assustava. Até que neste
sábado, 04/02/2012, acompanhado do colega Nilson de Valença, empreendemos o
desafio. Chegando a Pentagna (10 km do percurso de 100 km) um frequentador do
bar no qual paramos sentenciou: a serra do Funil é onde Deus descansa os pés.
Aí, eu tremi.
Quando tinha 10 anos meu pai, Sr. Gumercindo, presenteou-me com uma Bíblia
novinha e, certa noite, ouvindo um pregador, acompanhei-o na leitura do Salmo
110:1: “Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo para os teus pés”. Em casa
perguntei: o que é “escabelo”. Meu pai respondeu: é uma almofada onde o rei,
sentado no trono, pousa os pés. Agora sabia que a serra do Funil seria uma brabeza, era onde Deus
pousava Seus divinos pés.
Almoçamos em Rio Preto e fizemos a digestão subindo devagar de 400m de
altitude para 900m, em 18km. Já subi até 1200m em 22km indo para 7 Quedas, na
Bocaina, sem precisar desmontar. Será que o Funil seria assim tão difícil? É,
sim. São duas subidas, uma com 6km e outra com 10km. Saímos de Rio Preto antes
de 13h e chegamos lá às 16:30. Foram 3:30h de suor e dor temperado por uma
vista maravilhosa.
Depois de beber quase 2lt de líquido e descansar subimos a pé uma escadaria, os
degraus feitos na própria pedra, até a igreja dentro da gruta. Antes fomos ver o rio de
águas marrons escoar e sumir num funil. As águas nascidas nas serras vêm
abrindo caminho para baixo desgastando as pedras e delineando seu leito.
Possivelmente um desmoronamento tapou a passagem do córrego e ao invés dele
encher, represado, e passar por cima dos blocos que fecharam seu caminho ele achou outra solução. como
as serras são formadas por calcário ele encontrou buracos na pedra para seguir
por uma caverna e surgir à luz do sol mais abaixo. É um sumidouro. Aquele alto de serra impressiona.
A volta foi mais suave, mas o tempo planejado – estar de volta até 17h –
extrapolou completamente, chegamos com o cair da noite, eram 19:30. Mas não foi um
sacrifício, foi um esforço para alcançar um objetivo.
Na condução vi a lua crescente me seguindo no céu e, como tem muitas
árvores a beira da estrada, ela parecia correr acima delas atrás de mim. Ela tinha de me olhar, afinal subi a serra do Funil!