Invariavelmente, durante a vida, vamos tendo pequenas
revelações do futuro. Gente de pouca fé que somos, deixamos passar esses sinais
sem atentar para os avisos que o Pai vai liberando. Pensei nisso lendo o livro
Rebecca. A heroína do romance é ao mesmo tempo a narradora da história. Em
Mônaco, conhece no hotel um homem e conversando fica sabendo que ele é
proprietário de uma mansão: Ela se Manderley. Ela continua contando: “Enquanto comíamos em
silêncio, lembrei-me dum cartão postal que comprara em criança, numa vila em
que com meus pais fomos passar férias. Era um desenho de uma mansão mostrando a
simetria do edifício, a imponência dos largos degraus em frente ao terraço e a
beleza do gramado que se estendia até a praia. Em baixo, à direita, dizia:
Manderley”. Doze anos depois, ela se casa com o dono da propriedade. É mole!
No natal de 1951, quando tinha 7 anos, ao entrarmos na sala
onde ficava a árvore enfeitada e cercada de presente, vi encostada a parede
duas bicicletas brilhando de novas. A minha era verde e a de meu pai preta, da
marca Hércules. Ao me ajudar a leva-la pra rua, ele me disse: Os domingos serão
meus e seus. Vamos pedalar para um monte de lugares, tá bom? Se estava bom? Era
só o que eu queria, sair sozinho com meu pai, como se já fosse homem. E não sei
de onde vinha, mas aquela magrela me parecia uma companheira antiga.
Não deu outra, depois de muitos anos virei um ciclista difícil de aturar.
Então, temos ou não sinais do que vamos passar lá adiante?