bikenauta

Outubro 30 2012

Escolhida como lugar natural para porto, em 1530, hoje - tendo preservado o casario, as ruas de pés-de-moleque e um ar colonial - foi escolhida como Patrimônio da Humanidade. Aqui enchemos os olhos de beleza e o coração matou saudade de antigas vivências.

- Foi de carro, "seu" Zé?

Percorremos 135 km para chegar lá, mas fomos de bicicleta. Não dividimos o asfalto com os velozes automóveis, não, subimos a serra da Bocaina no município de São José do Barreiro e pedalamos longe dos motores, andamos cercados pelo silêncio das montanhas e seguimos num ritmo bem próximo ao do nosso próprio corpo.

 

Passando vagarosamente pela paisagem pode-se desfrutar melhor sua beleza. Um campo florido precisa ser olhado de perto e fotografado; ainda mais quando o pneu da bike de Reginaldo esvaziou exatamente ali.

O vale coberto de nuvens, parecendo um oceano branco, precisou ser registrado e como nossas magrelas são fáceis de frear pudemos descer com tranquilidade. O tempo é nosso, tínhamos dois dias para chegar a cidade colonial.

Não é uma correria para chegar lá. Não, é um viajar aproveitando todas as belezas do caminho. Uma velha casa de fazenda, em nossos dias a pousada Lageado, precisa merecer uma visita. Tiramos os tênis e sapatilhas e pisamos na grama áspera parecendo que voltávamos a época dos tropeiros que faziam parada aqui mesmo.

Um longo pedal satisfaz anseios da alma de cada um. Celmo queria recordar o tempo de jovem solteiro, sem as responsabilidades de pai e marido. Andar pelo mundo "sem lenço e sem documento" e ainda poder tomar um banho de riacho geladinho. Era bom ouvir de novo seu uivo de lobo solitário.

João Henrique desejava um repouso dos estudos intensivos de engenharia mecânica. O ar mais puro das terras altas o fazia lembrar a fazenda da família em terrenos plantados de café, lá no Espírito Santo.

Eduardo é um aventureiro, um desbravador de trilhas e esquecendo os computadores e longe de programas de software ele ria muito e até conseguiu induzir "seu" Zé a fazer a temerosa pergunta: qual Mário? (foto de propriedade dele mesmo)

E o tranquilo amigo Peixe que sente enorme prazer em ver seus amigos contentes e usufruindo felizes a vida que Deus nos deu, era o colega que tranquilizava e incentivava quando as pernas já não tinham mais força alguma.

Parodiando o rei Pelé: compreende? Andar de bike é muito melhor do que ir todo mundo apertado num automóvel. E assim chegamos a Paraty.

Ah sim, ainda tive tempo de dar uma beijoca nesta bela escrava.

publicado por joseadal às 17:02

Outubro 25 2012

Uma das mais belas qualidades humanas é a amizade. O encontro dos amigos, que coisa mais prazerosa!

(foto de outro amigão, o marujo Marcus MP, tirada no caminho para Quatis)

Não consigo ouvir Amigo é pra essas Coisas sem sentir um nó na garganta.

https://www.youtube.com/watch?v=HO7Dx4ziU_o

Esse final de conversa entre dois destinos tão diferentes, mas de dois corações afins, é tocante.

“- Adeus
- Toma mais um
- Já amolei bastante
- De jeito algum!
- Muito obrigado, amigo
- Não tem de quê
- Por você ter me ouvido
- Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará”.

Para distrair estou relendo Jorge Amado em Tenda dos Milagres. O santeiro Mané Lima relembra as saídas com o amigo Miguel Arcanjo, “pobre, pardo e porreta”:

“Uma vez por semana, às quartas-feiras, invariável, com sol ou chuva, Arcanjo vinha me buscar para tomarmos umas cervejotas geladíssimas.

- Despeje o saco, meu bom, conte as novidades.

- Não tenho nenhuma, Arcanjo.

- Ora, toda hora acontecem coisas. Vá desamarre a língua.

Depois de três ou quatro cervejas, quando obtinha uns trocados, ele batia com força na mesa chamando o garçom:

- Traga a conta, meu bom.

- Deixa comigo, mestre Arcanjo, guarde seu dinheirinho.

- Em que lhe ofendi para você me desconsiderar, meu camarado? Quando não tenho dinheiro você paga, não me aflijo, não é por minha culpa e querer. Mas se hoje tenho algum, por que você há de pagar? Não diminua o velho, me deixe inteiro, meu bom.

E ria um riso de dentes brancos”.

Entre os amigos as aflições são saradas, ninguém é superior e cada um fica agradecido e quase diz:

Muito obrigado, amigo, por você ter me ouvido.

 

publicado por joseadal às 01:16

Outubro 21 2012

Você não tem ideia do trabalho que é cuidar de um grupo inquieto e opinioso.

Neste sábado, 21/10/2012, fizemos uma bela pedalada. Uma longa volta até Quatis passando por uma antiga estação ferroviária abandonada, Glicério.

Já no ponto de encontro era visível a inquietação dos colegas. O jovem Leandro sugeriu um caminho mais tranquilo fugindo do trânsito no centro de Barra Mansa. A maioria queria o novo trajeto e a democracia venceu. Porém um amigo ia nos esperar e para não ficar feito uma ovelha perdida sai atrás dele. Voltando – surpresa! - lá vinha o grupo seguindo o plano original. Ô, pessoal difícil. Mas um companheiro de muitos pedais, informado do novo caminho escolhido desgarrou, lá fui eu, João Bosco, Leandro e Marcelo, em busca de Fabiano66. O pedal de Glicério estava prometendo.

Mas lá em Vista Alegre o rebanho estava completo e deixando de acompanhar os trilhos da ferrovia do Aço subimos para vencer a distância até Quatis. O rio Paraíba do Sul corre mansamente, como nós.

Lá adiante estava a velha estação. Diante daquela plataforma, antigamente tão movimentada, agora habitada por fantasmas e morcegos, o animado conjunto sentiu como tempo age modificando e corroendo prédios e gentes. Então, enquanto podemos vamos pedalar.

A manhã de sol estava quente, assim paramos para nos refrescar na cachoeira do Cici. Lembrei-me do que diz o Salmo (23:2,3): “Guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma”. O recanto onde a Natureza juntou orio Turvo e uma pedreira é uma beleza e a água estava deliciosa.

A bela Quatis surge lá em baixo, um casario baixo, sem prédios, um lugar calmo.

Na hora do almoço a gente faz do momento da partilha do alimento uma comunhão e, de cada vez, nos sentimos mais unidos, mais irmãos.

Em Quatis tem uma fonte muito bem cuidada e fomos para lá encher os cantis. Conversando e brincando uns com os outros como um bando de ovelhas barulhento descansávamos da refeição farta.

Na volta pernas e cabeças não aguentaram andar juntos e enquanto uns seguiam a estrada para Amparo outros subiam a serra de São José. Vendo o mundo aos seus pés agradeceram o vento fresco que veio dar novo ânimo e desceram a trilha do Curral até o encontro de todo mundo no começo da trilha do Peixe.

Bem, afinal, não é tão complicado manter juntas pessoas de tão bom coração e alma.  

publicado por joseadal às 02:53

Outubro 13 2012

Corre a história do monge tibetano que pergunta a seus discípulos que gostam de andar de bicicleta, qual motivo os levam a isso. Cada um tem seu estímulo: andar junto a natureza, fazer exercício, não poluir o planeta, fazer as coisas com mais calma, fugir de engarrafamentos e por aí foi. Porém, o mestre declarou que a razão mais sublime foi a que apresentou o discípulo Zé: eu gosto de pedalar. Sim, simplesmente isso, girar e girar os pedais, sentado sobre a magrela bike. (foto do amigo Fabiano que chegou ao alto primeiro que eu)

Hoje foi assim. Não havia o comprometimento de andar uma centena de quilômetros. Não era para ir numa cachoeira ou num lugarejo distante. Não, saímos, mais de dez ciclistas, para pedalar. Primeiro rodamos pelo asfalto afastando-nos da cidade. A beira do rio Paraíba do Sul para deixar Volta Redonda, não importa para onde se vá, é preciso subir um bocado. E lá fomos nós.

Atravessamos a rodovia Presidente Dutra e rodamos  pelo bairro Roma. A estrada apertada estava movimentada por causa do feriado e ainda não estávamos livres de preocupação. Mas os pés giravam os pedais e a paisagem passava numa velocidade em que se podia apreciar a beleza.

Depois de Getulândia o trânsito ficou mais calmo e rodamos para Fazenda da grama. Lugar de casas de veraneio, ainda dormia quando passamos e chegamos a beira da represa.

Daí, rodamos tranquilos para Arrozal numa estrada que está sendo asfaltada e não nos preocupamos com carros. Que alívio!

Arrozal estava movimentada e enquanto uns faziam um lanche na padaria outros faziam arte. (foto do amigo Fabiano)

Tudo é diversão numa pedalada descompromissada. O tempo e a distância não contam. Tudo anda mais devagar. (foto do Fabiano)

Logo, depois da subida do velho caminho da Melequinha chegamos novamente a Dutra e ao caminho de casa.

publicado por joseadal às 00:15

Outubro 07 2012

A região Sul Fluminense é muito bela por conter o vale sedimentar do médio rio Paraíba do Sul entre as serras do Mar e da Mantiqueira. Os sedimentos do vale foram trabalhados por riachos, vento, sol e frio e formaram um mar de morros.

Hoje, 06/10/2012, seis ciclistas saíram percorrendo uma grande volta para chegar a Ribeirão de São Joaquim. O circuito durou das 7 h até 16h em que percorremos 90 km. Por ficar nos contrafortes da Mantiqueira o belo lugarejo fica a 730 m de altitude, mas é preciso subir e descer altas colinas pelo caminho.

O tempo ajudou. Primavera com sol forte um vento fresco corria pelos caminhos refrescando os ciclistas que mourejavam forcejando nos pedais. A serra da Mutuca logo que se passa Amparo é uma velha conhecida nossa, caminho obrigatório para quem vai para Minas Gerais. Logo depois da fazenda Velha, entrando à esquerda, subimos um morrão que exigiu muita determinação.

Felizmente há o vale onde se pedala bem rápido pela estrada que corta os morros, quase um altiplano. Depois, chegando em Ribeirão são morros em degraus. Sobe-se muito, descemos um pouco, torna-se a pegar nova subida e assim fomos até passar pelo velho cemitério e descer para a praça e o merecido almoço com muito arroz doce e descanso. Observe o prato de doce do colega Edinho.

Revigorados voltamos para casa descendo mais do que subindo, mas ainda assim com muitas ladeiras.

Corpos cansados, os músculos se acomodando depois do grande esforço, estamos aptos a votar conscientes e com esperança de eleger governantes  e legisladores municipais éticos e esforçados, que trabalhem pelo bem da comunidade. Só vendo!  

publicado por joseadal às 00:35

Outubro 02 2012

Lia São Bernardo, livro de Graciliano Ramos, no ônibus para o Rio de Janeiro. Era pouco mais de cinco horas da manhã, mas depois de acordar não consigo dormir e não podia continuar remoendo todo o plano para chegar a Petrópolis e participar do Desafio Audax, 80 kms pelas serras. Um engarrafamento na Dutra e perderia o ônibus para a cidade serrana e adeus meu pedal. Assim, lia para me distrair o livro que fala de histórias desses sertões do Brasil que amo tanto. Descia a serra das Araras e com certeza a minha bike estava pra lá e pra cá dentro do bagageiro, mas minha cabeça só pensava em chegar a Petrópolis.

O sol estava lindo, deu tudo certo e às 8 horas estava na cidade de D. Pedro. A saída do grupo, da frente da Catedral, ainda demorava e pude visitar alguns pontos bonitos da cidade. Em frente à universidade pedi a uma bela fotógrafa que registrasse minha passagem diante do famoso prédio com seu relógio de flores. Fazia frio, mas dava para aguentar bem. 

Um café gostoso com um pão com manteiga que só os petropolitanos sabem fazer e fui passar pela casa de Santos Dumont bem na hora em que o Pai da Aviação deu uma rasante com seu 14 bis que quase raspa em meu capacete.

   

Ainda dava tempo de ver o Palácio de Cristal, afinal a Catedral estava logo ali. Antes de um pedal a gente fica ansioso, pelo menos eu fico, mas ontem estava tranquilo apesar de além do difícil pedal com um grande grupo ter planejado deixá-los e voltar pra casa pedalando sozinho.

- Zé, desculpa aí, mas você está aparecendo muito. Fala do pedal de uma vez.

Bem, acabou o turismo, chegou a hora do desafio. Então, corri para a catedral de Petrópolis com suas formas esguias apontando para o céu. Diante dela um monte de gente sorridente e com uniformes coloridos, eram os participantes do Audax Vale das Princesas.

Estava tudo bem organizado com a polícia municipal nos escoltando pela avenida de saída da cidade. Até que acabou o passeio e entramos para a subida do Cantagalo. Então era usar a marcha 28 ou 29 e fazer muita força com as pernas. Num instante o primeiro pelotão sumiu da minha vista; agora era dar duro para ficar no meio do grupo intermediário. Atravessamos a BR 040 e passamos por Araras com suas lojas de artesanato. E aí o bicho pegou. (este foi um ponto de parada no Vale das Videiras)

Uma subida sem fim, 40 km que dava quase pra chegar no céu. Pedalava no meio de uma turma jovem que aos poucos foi desmontando e usando as pernas para caminhar empurrando as bikes. A gente se sente bem quando um jovem nos diz: Quero chegar na idade do senhor pedalando assim)

Tenho que dizer: o Audax não é bom para marcar trilha. No meio de uma ladeira doida veio a turma da elite de volta, o caminho não era aquele, era outro. Bem acima surgiu uma bifurcação e ninguém sabia para onde ir. Enquanto um olhava o GPS e outro jogava uma moeda, o Zé Perdido achou melhor perguntar numa casa. Era para direita, outra subida, mas a rapaziada já tinha descido à esquerda. Sumiram.

Cheguei a Palmares, com o pelotão de frente voltando voado para Petrópolis para fechar o Desafio. Comi frutas, bebi bastante água, despedi-me do pessoal de apoio e de alguns colegas e toquei para Paty de Alferes.

No blog Com a Cabeça das Nuvens, do amigo Michel, pedindo-se para localizar Petrópolis encontra-se a descrição desse mesmo pedal e ele diz que chegou em Vassouras às 17:30h. Michel pedala muito, mas eu tinha de chegar lá até 16:15h para pegar o ônibus pra casa. Ele não contou a que horas saiu naquele dia, mas desconfiava que havia sido antes da hora que sai, 9 horas. Tinha que pedalar muito. O asfalto entre Miguel Pereira e Vassouras é bem plano e deu pra correr bem, mas já na chegada tem umas elevações que para quem 'já está no bagaço' dá vontade de chorar.

Bem, deixa de papo, acabei pegando o ônibus que chegou atrasado. E o pedal foi perfeito.   

publicado por joseadal às 02:34

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