bikenauta

Março 31 2013

Neste domingo de Aleluia, 31/03/2011, fomos pela trilha da Jaqueira.

(ao fundo o belo sítio de Alberto e Scheila)

- Zé, já fiz várias vezes essa trilha e nunca vi esse lugar, que nem caminho é.

A magia do mountain bike é que o ciclista é dono de seu destino e do tempo. Numa trilha passamos por caminhos que tangenciando o rumo que seguimos pode nos levar a descobertas maravilhosas. Foi assim, nesta manhã.

(Elder saíndo do caminho da Jaqueira para um lugar desconhecido e ignorado, mas que é belo)

Mas antes de contar as belezas que desfrutamos preciso falar de uma coisa triste.

Logo que entramos na estradinha uma patamo passou por nós. De onde viria? Não demos mais atenção e seguimos conversando sobre desmandos e corrupção em empresas públicas. Adiante um PM vigiava. Quando passava por ele, perguntei: O que é que houve? No canto esquerdo do caminho ele apontou um dedo para meu lado direito. Na beira da estradinha, deitado no meio do mato ralo, um jovem magro e bem vestido parecia dormir de lado com a mão direita encostada ao rosto, como que tentando parar um sangramento na têmpora, estava morto.elo 

(disso não tem foto, mas esta é do belo local que visitamos)

Deixei a bicicleta continuar correndo enquanto sentia um mal estar no estômago. Mundo cão, sem amor, o mundo dos homens.

Nas reuniões de jovens católicos a quais tenho participado, dia desses estudamos sobre o dogma do Inferno. A apostila diz: “Deus não predestina ninguém ao inferno; para ir para ele é preciso ter aversão a Deus e persistir nela até o fim. O inferno não é incompatível com a misericórdia e o amor infinitos de Deus que quer a salvação de todos. Deus que é amor infinito não se impõe à sua criatura nem o força a amá-lo. É a própria criatura criada a imagem de Deus que, quando se recusa a se arrepender e a aceitar o perdão de Deus, se fixa no estado do inferno”. Lembrei disso ao ler o livro As Drogas e o Aniquilamento da Sociedade (p.27): “O uso descomedido da cocaína causa dependência física e psicológica, abatimento do humor, ânsia profunda, perversão moral, perturbações digestivas, redução da produtividade laboral e a diminuição da felicidade. (p.21) Tais indivíduos não aceitam a regeneração. Toda injustiça praticada por quem não tem temor de Deus terão consequências gravíssimas; é a lei da semeadura”. Santo Afonso Ligório insistiu: “Tudo que se faça para evitar uma eternidade de penas é pouco, é nada”.    

A paisagem linda dessa trilha foi esfumaçando a cena cruel e logo estávamos no meio de gente alegre e do bem. Fomos visitar o casal amigo, Alberto e Scheila. Um sítio num lugar de paz, com cores espetaculares e um silêncio do paraíso.

Dali, ficamos entre voltar à estrada ou cortar por um alto. Seguindo o preceito de mestre João Bosco escolhemos um trilho que nem caminho era. Mas varamos o mato alto e chegamos a entrada do alambique do Dr. Wellington.

Aí sim, o dia ganharia os belos matizes das pessoas que são imagem de Deus. Na varanda simples, com um fogão de lenha quentando as panelas, conhecemos “seu” Alcenir, sua filha, o amigo Zé e o pequeno filho de Deus, João Paulo com seu sorriso abençoado.

Tomamos pinga de um sabor divino: gosto de chão de barro, águas de chuva e do bagaço recém-moído. Que momentos!

- E a velha e formidável jaqueira, Zé? Viu?

Com o gosto de feijão com angu e pescoço de frango ainda na boca recendendo a cachaça, decidimos dar por encerrado o passeio e voltamos. É dia de Páscoa, de ressurreição, onde não se lembra da morte e das dores da vida.

publicado por joseadal às 22:37

Março 29 2013

“A doutrina hindu ensina que a duração de um ciclo humano, ao qual dá o nome de Manvantara, divide-se em quatro Idades, que correspondem a fases de um obscurecimento gradual da espiritualidade primordial; são esses mesmos períodos que as tradições da Antiguidade Ocidental, por seu lado, designavam como as Idades de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estamos presentemente na quarta Idade, “Kali-Yuga” ou “Idade Sombria”. As verdades que eram outrora acessíveis a todos os homens tornaram-se cada vez mais dissimuladas e difíceis de atingir; aqueles que as possuem são cada vez menos numerosos.

Se o tesouro da sabedoria 'não humana', anterior a todas as idades, nunca se pode perder, ele se envolve, no entanto, em véus cada vez mais impenetráveis, que o escondem aos olhares e sob os quais é extremamente difícil descobri-lo. É por isso que por toda a parte se faz alusão, sob diversos símbolos, a qualquer coisa que se perdeu”.

Ora, o que pareceu a mim e ao amigo Pedrão uma coisa normal e agradável, sair pedalando e aproveitando a bela manhã, é despercebido pela maioria, está como coberto por “véus cada vez mais impenetráveis”. O organismo humano precisa de atividade revigorante e nossa mente anseia pelo mundo natural. Bem, isso é sabido de quase todo mundo, mas muito poucos compreendem que as duas juntas não se faz numa academia e muito menos num sofá diante da TV.

A citação acima está no livro Crise do Mundo Moderno, de René Guenón e me fez reportar ao tempo de meus avós. Francisco era pescador profissional e Otoniel era estivador. Era menino, mas o que me lembro deles é que trabalhavam boa parte do dia e nos dias de folga dedicavam-se a família. Tanto eles como suas esposas tinham um físico enxuto, sem gorduras supérfluas e com ótima saúde. Ora, já viviam no Mundo Moderno, mas num momento dele antes que uma pressa avassaladora mudasse tudo.

Fico pensando se andar de bicicleta seja uma atitude pós-moderna. O livro de Guenón diz mais adiante: “mas também se afirma que aquilo que está assim escondido voltará a ser visível no fim deste ciclo, que será ao mesmo tempo, em virtude da continuidade que liga todas as coisas, o começo de um ciclo novo”.

Então, como cavaleiros pós moderno fizemos a volta bem simples que passando por Arrozal vai até a Fazenda da Grama e contornando Getulândia volta pra casa. Não há muito para contar, senão do verde que nos cercava e impressionava nossos sentidos, o silêncio que nos fazia meditar e a boa conversa de dois amigos.

As fotos, espalhadas pelo texto, não me deixam mentir.

publicado por joseadal às 21:43

Março 28 2013

Amanhã vamos rodar com nossas bikes.

Desde a hora em que acordamos e enquanto vestimos o uniforme já acontecem modificações em nosso organismo. Pessoalmente, quando calço as luvas e ponho o capacete, na garagem aqui de casa, sinto uma transformação como se estivesse me tornando um super-homem.

O site da Universidade Católica na página http://www.efdeportes.com/efd129/efeitos-metabolicos-e-hormonais-do-exercicio-fisico.htm, explica: “Os níveis plasmáticos de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) se modificam na preparação e aumentam de maneira diferenciada durante o exercício, com a concentração de noradrenalina aumentando acentuadamente em taxas de trabalho superiores a 50% do VO2 máx, enquanto a concentração de adrenalina só irá aumentar significativamente quando a intensidade do exercício ultrapassar 75% VO2 máx. A atuação em conjunto destes dois hormônios promove, entre outros efeitos, o aumento da taxa metabólica e da liberação de glicose e de ácidos graxos livres no sangue, sendo que o aumento no gasto energético é positivo no combate à obesidade”.

Então, no ponto de encontro, amanhã, sexta-feira Santa, 29/03/2013, às 07:00, na prefeitura, não se será mais a mesma pessoa e uma alegria e um intenso prazer tomarão conta da gente.

O advogado Márcio me deu o livro As Drogas e o Aniquilamento da Sociedade, do professor Laurindo Costa, onde li: “Hoje, por causa da falta de perspectivas profissionais, carência afetiva, dificuldade de tratamentos de saúde, educação falha e pouco acesso a cultura, encontramos uma juventude frustrada, decepcionada com a vida e com pouca possibilidade de um futuro próspero. O somatório de tudo isso leva esses indivíduos ao uso contínuo das drogas”, p 28. “A busca pela satisfação através da excitação física, experimentada pelo drogado, contribui para a aparente sensação de força e poder. Mas sua durabilidade será tão passageira que não ultrapassará dez minutos e logo o usuário ficará ‘fissurado’ por mais droga” p34.

Quando se pedala nosso corpo também é invadido por complexas substâncias químicas. O site acima fala de outras além da dopamina e da noradrenalina: “O hormônio do crescimento (GH), além de ser um potente agente anabólico, estimula diretamente a lipólise. Suas concentrações encontram-se elevadas durante o exercício, sendo que, quanto mais intenso for, maior a quantidade liberada deste hormônio. No exercício, à medida que os níveis plasmáticos de glicose no sangue vão diminuindo, ocorre estimulação da glicogenólise hepática. A diminuição dos níveis de insulina é proporcional à intensidade do exercício, sendo que nos prolongados ocorre um progressivo aumento na obtenção de energia proveniente da mobilização de triacilglicerois. As endorfinas são um tipo de opioide liberado durante o exercício. Elas estão relacionadas à maior tolerância à dor, ao controle do apetite, à redução da ansiedade, da raiva e da tensão. No exercício aeróbico, a intensidade é o principal fator que estimula as elevações dos níveis plasmáticos de beta-endorfina. A leptina está relacionada à regulação da saciedade, taxa metabólica e massa corporal. Sua secreção é realizada em maior parte pelo tecido adiposo, porém, pode ser secretada em menor quantidade pelo músculo esquelético, epidídimo mamário, placenta e cérebro”.

O professor diz: “Desde o princípio da história o ser humano maneja algum tipo de droga”. Pense bem, quando se pedala o próprio corpo da gente sintetiza um monte de substâncias químicas que transformam nossa normalidade. Então, fica só entre nós, venha ficar doidão amanhã.

publicado por joseadal às 17:56

Março 26 2013

Aconteceu-me algo maravilhoso nesse início da Semana Santa.

Mas deixe-me fazer uma consideração bem rápida. Tenho aprendido muito com jovens com menos de metade da minha idade. Chamaram-me atenção, por exemplo, de um fato que aconteceu no coração dessa semana, na 5ª feira da ceia pascal. Quando Jesus deu a ordem: Fazei isso em memória de mim; sempre pensei que ele mandava a todos os cristãos repetir esse ritual para lembrar do seu sacrifício por nós. Mas não, com essas palavras ele instituía o sacerdócio da nova religião. Cada um dos onze poderiam transformar o pão no corpo e o vinho no sangue de Cristo. E ganharam o privilégio de delegar esse poder a outros sacerdotes.

Mas disse tudo isso por causa dos onze. Explico-me.

Na vida não se pode viver rolando como “uma pedra que não cria limo jamais”. Quando se entra numa relação é preciso permanecer nela. Trabalhar as afinidades, participar em tudo que o companheiro ou amigos planejam e querem realizar. Incluir-se e abranger a todos, ter uma vida participativa. Então, sem você pedir flui o amor ou a amizade. Sem exigir atenção, respeito ou carinho se recebe uma porção abundante de camaradagem. Ser um dos onze e receber privilégios e regalias torna a vida muito feliz.

Coisa terrível é não ser legal e ter de ouvir o maior amigo da gente ou nosso amor mostrar a porta da rua e dizer: Vai, faça o que tem de fazer.

Foi assim que neste início da Semana Santa me aconteceu uma coisa maravilhosa. Por nove anos dividi momentos bons de minha vida com uma porção de amigos. Sobre minha bike andei por muitos lugares com eles, dividimos experiências boas e momentos de cansaço e superação, situações de fé e projetos que envolveram muita determinação. E tudo isso foi colocado num banner de 2 m x 1,5 m com dezenas de fotos que lembram cada instante inesquecível desses anos de amizade. Foi um presente inesquecível no meu 69º aniversário.

- Zé, não vai agradecer a cada um?

Não tem como nomear cada um, nem ouso falar um nome. São tantos! Mulheres e homens, jovens e gente da melhor idade. Todos felizes e grandes amigos e espetaculares cooperadores em tornar a vida de cada um mais alegre. 

publicado por joseadal às 01:08

Março 24 2013

Decidimos participar da cavalgada em Juparanã em honra a São Jorge. Ontem foi o primeiro treino. Todos sabem andar a cavalo, uns mais outro menos, muito menos.

E como vamos ficar em cima dos cavalos mais de oito horas naquele dia da festa, um treino se tornou essencial. Porém, resolvemos aproveitar a viagem e também andar de bike pelos belos caminhos de Valença.

O sábado, 23/03/2013, chegou outonal, claro e fresco. Saímos de carro bem cedinho e encontramos os colegas valencianos nos esperando em frente à velha estação. Rodamos pelo asfalto até o distrito de Taboas, em Rio das Flores. 

Saímos do asfalto subindo em declive manso um antigo leito de via férrea e depois descemos bastante até a pequena São Sebastião de Lacerda. Esses povoados fluminenses guardam a mística da época em que o tempo não corria e a vida escorria calma e sossegada.

Atravessamos o rio Paraíba do Sul e pegamos a serra das Abóboras com uma subida brava e interminável e com ladeiras bem acentuadas. Não chegamos a lugar algum porque o tempo voava e ainda teríamos de cavalgar. Voltamos a Valença, comemos um frango bem fritinho no Bar da Galinha e, com algumas complicações estávamos finalmente sentados nos cavalos seguindo num passo firme por caminhos do distrito de São Francisco de Assis.

Andar de bicicleta toda semana por trilhas de todos os tipos nos dá um domínio bastante bom deste meio de transporte, mas andar de cavalo uma vez na vida outra na morte te faz refém do animal. O amigo Nilson, dono dos cavalos e de uma imensa paciência, me ensinou o básico: a barrigueira bem para trás e apertada sem tirar o folego do bicho, estribos numa altura que se apoie nas pernas e não na bunda, só a ponta dos pés apoiados no estrivo e as rédeas bem curtas seguras firmemente na mão. O cavalo numa longa cavalgada tende a ficar alheio, dormir na sela, e a rédea serve para despertá-lo. Nas demoradas andanças o animal tende a tropeçar e o cavaleiro deve manter sua cabeça elevada e puxá-la para cima na hora dum tropeço.

Sabendo tudo isso fiquei desatento com a paisagem nos altos dos morros para os lados de Conservatória e num tropeço ele deitou de lado jogando o cavaleiro no chão. Fiquei com a perna direita presa sob a barriga pesada até que ele levantou e vi que o pé esquerda estava preso no estribo. Que vale que ele era manso e ao invés de sair em disparada batendo a cabeça do falso ginete nas pedras ficou pacientemente parado até eu conseguir tirar o pé da bota. Com o orgulho bem machucado afrouxei a barrigueira, os amigos chegaram e colocamos a sela no lugar. A noite caia e esfriava e foi com prazer que vimos as luzes do povoado e chegamos ao curral.

Resumo da história: tem gente que não consegue servir bem a dois senhores. 

publicado por joseadal às 14:02

Março 18 2013

Quando você pensa em sair de casa, digamos do bairro Vila Rica, para fazer uma compra numa loja na Vila, cinco quilômetros de distância, lembra-se do trânsito infernal e decide ir de bicicleta a distância parece enorme. Você pensa em cada esquina que vai passar até seu destino. É longo o trajeto. Isto porque você está no nível material, nos limites do seu corpo. Mas há outra maneira de se ver as coisas. O livro Fernão Capelo Gaivota fala desse outro nível: “Você pode ir a qualquer lugar e a qualquer tempo que desejar. Quem despreza uma aventura por causa da viagem não vai a lugar nenhum. Mas quem releva o trajeto porque quer a perfeição vai a qualquer lugar, instantaneamente”.

- Zé, isso é autoajuda, é só papo.

Neste domingo, 17/03/2012, 07 ciclistas encontraram-se para ir até a fazenda Santa Clara, no município de Rio Preto, Minas Gerais. Nenhum deles pensava nas centenas de metros de pedal até chegar ao bairro Santa Cruz, nem em cada quilômetro que precisava vencer na estrada para Amparo e mais além, até Santa Rita de Jacutinga. Muito menos nos cento e quarenta quilômetros que íamos rodar movendo os pedais com os pés.

De novo, o ancião gaivota, ensinando a Fernão: “’Para ir a todos os lugares que existem você tem que começar sabendo que já está lá'. O macete, de acordo com o instrutor, consistia em deixar de considerar-se preso dentro de um corpo limitado e se sentir em toda parte ao mesmo tempo, tanto no tempo quanto no espaço”.

- Tem certeza que não é só conversa fajuta, Zé?

Descontraídos ali, no ponto de encontro, estávamos ao mesmo tempo em Santa Izabel do Rio Preto, ou já lá em cima em Santa Rita de Jacutinga, ou mesmo já rodando ao lado do nervoso rio Preto.

Cada um ali não tinha só seu metro e tanto de altura mais a bike, era grande, imenso, abarcava todo o espaço do trajeto que idealizamos percorrer e mais até, se preciso fosse. Transcender ao próprio corpo e "se sentir em toda parte ao mesmo tempo" não pode ser conquistado como se tomasse uma pílula. Não, é preciso muitas tentativas, esforço e persistência, mas se consegue ir tão longe por pensar que já está lá.

Um mistério: quando pensar em seu Criador, vá para esse nível de pensamento. Veja-O como ocupando toda a atmosfera em volta do nosso planeta. Não, mais, cobrindo todo o sistema Solar ou toda a Via Láctea. Ora, pense logo grande, nosso Deus tem o tamanho desse Universo e de outros. Estranhamente, você também irá crescer e seus problemas diminuir, diminuir até sumirem.

 

publicado por joseadal às 17:06

Março 10 2013

Há momentos mágicos. São instantes que transcendem a realidade que cerca uma ação humana. Alguns desses repercutem por séculos. Como daquela vez, perto de São Paulo, quando a comitiva do príncipe regente fez alto à ordem do oficial. Formados em meio círculo, os cavalos pisoteando o chão e as dragonas dos soldados rebrilhando ao sol, o monarca saca a espada, que sai da bainha fazendo um chiado de metal, e grita: Independência ou Morte. Ou como ontem, 09/03/2012, quando atravessamos uma velha ponte sobre o rio Preto.

Quando seguimos pela estrada de chão sombreada de árvores centenárias era como se andássemos para trás no tempo. Numa curva o casario de uma antiga cidade apareceu lá no alto, fulgurando com a claridade da manhã. Em nossas bikes íamos subir até lá em cima, pois São José das Três Ilhas é uma acrópole, um lugarejo construído no alto de uma serra.

Não há sensação igual à de se sentir todos os músculos do corpo trabalhando para nos impulsionar por um aclive forte de morro. A cada volta da estrada o casario surgia mais próximo e voltávamos ao tempo sórdido da escravidão. Quando os músculos já ansiavam por um descanso eis que surge o calçamento de pé-de-moleque e a vendinha (a tataravó do supermercado) com os colegas que a sombra de goiabeiras tomavam suas bebidas bem gelada.

O caminho de pedra seguia cercado de casarões bem preservados. As capelas da via sacra surgiam a intervalos. Não foram construídas todas as estações, apenas cinco. Esse lugarejo, que no final do século XIX pertencia a Juíz de Fora, tinha naquela época um terçoda população da sede. Os grandes barões do café elegeram esse recanto no meio das colinas, de clima soberbo, para aí passaram a semana santa com as famílias.  

Uma calma benfazeja se derramou sobre aquele grupo estafado. Empurrando as bikes andamos fotografando as belas casas. Prédios tombados pelo Patrimônio Histórico de Minas Gerais são de uma beleza inigualável e nos transmitem a calma dos tempos passados.

Até que surge diante de nossos olhos maravilhados a esplêndida catedral de pedra castanha, a igreja de São José das Três ilhas. Observe bem, a parede de pedras de mão, logo abaixo do beiral, é arrematada com tijolos. As razões são três, uma delas ou todas juntas: a escravidão que terminou de um dia para outro e não havia mais aquela mão de obra, o madeiramento que se encaixaria melhor nos cubos de barro e o peso da construção que já apresentava fadiga no alicerce. 

O paciente ‘seu’ Geraldo, encarregado daquele patrimônio cultural tombado, abre a catedral com sua enorme chave de São Pedro e nos leva a ver maravilhas que resistem ao tempo. O verde das colinas com restos de matas nos grotões e os pastos nas encostas dá um ar bucólico ao lugar.

Desde o anjinho de carinha inocente e devota que guarda o jardim até a torre dos sinos, tudo percorremos, não mais ciclistas de mountain bike, mas peregrinos cristãos. De que está rindo o Zé? Da pose de ganso que o João2010 insistia em fazer para esconder os efeitos do tempo na sua bela face. Melhorou muito não, né? 

Mistérios cercam essa construção sacra, como as colunas de pedra inteiras que flanqueiam a galeria lá no alto. Foram amarradas com cordas que passavam por roldanas e eram puxadas por juntas de bois até seu lugar? Ou fizeram um morro de barro no meio da nave da igreja por onde eram arrastadas até em cima? Não souberam nos dizer.

E os buracos que o povo fazia entre as grandes pedras, arrancando as pedrinhas de rejunte, e enfiando neles os santinhos quebrados, venerados demais para ir parar no lixo?! De novo o colega João 2010 esticando a cabeça feito um ganso para tirar as rugas, pés-de-galinha e tantas outras imperfeições feitas pelo tempo.

Almoçamos uma comida da roça deliciosa e saboreamos um doce com pedaços de goiaba que estava uma delícia. O profesor Paulo Renato, de Valença, olha admirado o colega Nilson, depois de 'bater' três prataços, ainda se servir generosamente do doce de goiaba de 'dona' Nilza.

Ficamos por ali admirando a paz no meio daquelas serras. Cadê vontade de ir embora. Ah se tivesse uma rede por ali!

Mas o mundo apressado, longe dali, nos chama com insistência e a contragosto montamos nas magrelas e saímos daquele momento mágico, daquele lugar perdido entre a serrania.

 

publicado por joseadal às 13:33

Março 04 2013

A bela manhã deste domingo, 03/03/2013, foi um convite para, depois de tantos dias de chuva, sairmos em nossas bikes para uma volta de 80 km. Foi ótimo e chegamos a casa na hora do almoço.

Eu e o companheiro João2010 conversamos sobre muitas coisas, mas foi nos momentos em que estávamos silenciosos que mais aprendemos. Este círculo que passou por Getulândia e chegou à entrada de Bananal não representou quase nada neste imenso planeta que vivemos, mas deu para apreciar a beleza desse mundo e pensar no Criador de tudo isso.

Ocorreu-me o que li no livro Não Tenham Medo, onde João Paulo II diz: “A epistemologia [as maneiras que a ciência usa para provar a existência das coisas e entender suas propriedades e funcionamento] conduziram o homem contemporâneo a entender que Deus está morto. Penso que em seguida se declarará a morte do homem”. Já se vê muita gente dizer que os humanos são um vírus letal que acarretará o fim da vida neste planeta. A vida de um ser humano, aos poucos, irá valer menos que nada, com todas as implicações de violência e falta de ética disso.

Ter a capacidade de ver no tronco enrugado de uma árvore o intricado mecanismo da vida vegetal e pensar que estas e outras coisas tiveram um Idealizador e Criador é uma questão de fé.

Sobre isso, o penúltimo papa, disse: “A fé herdade e recebida dos pais, dos meios em que se vive, dos educadores e dos guias espirituais não é única. Admitindo todos esses condicionamentos, não penso que a fé seja só o fruto de uma adaptação aos outros, uma dessas coisas que tornamos próprias por simples assimilação. O conjunto de convicções e de atitudes que dão o direito e o dever de alguém se considerar cristão é fruto do próprio pensamento e da escolha pessoal”. Assim, é falso se dizer: sou católico ou evangélico por tradição, no fundo, o que se crê, mesmo com fraca intensidade, é uma decisão pessoal.

Refleti em tudo isso enquanto pedalava entre pedaços que restam da mata Atlântica. Recomendo o ciclismo de mountain bike como um modo de melhorar nossa relação com Deus. 

publicado por joseadal às 11:55
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