bikenauta

Setembro 16 2013

Hoje - um domingo - quando se olha para frente vemos, agradecidos, a segunda, a terça... os dias se sucedendo. O trabalho que gostamos, as contas vencendo, a ida a igreja, a volta para casa, numa sequencia em que tudo é quase sempre igual. Mas se pudéssemos incluir uma aventura, num dia qualquer, a semana estaria salva. Foi assim que dez ciclistas viveram esta semana que antecedeu o domingo, 15/09/2013, na expectativa da subida a serra de Rio Claro. Foi uma aventura.

O diferencial de um dia assim numa semana é que ele não pode ser todo calculado, como nos outros. No dia de aventura o impensável anda solto, a surpresa fica a espera para nos pegar e tudo pode acontecer. Esses dez sujeitos corajosos estavam prontos para pagar para ver, para subir muito e descer em ladeiras cheias de perigo. Em fim chegou o dia da aventura para salvar a semana que de outra forma seria como cantou Chico Buarque: Todo dia ele faz tudo sempre igual.

As cidades foram criadas para proteger o homem, mas também o segura, prendem-no. Levamos mais de meia hora para sair do perímetro urbano e iniciar a aventura na serra. Ela observava nosso aproximar. Enfrentar uma serra é lutar contra forças tectônicas antigas e de nada adianta o planejar como subir, ela nos vence sempre. Assim, tivemos de nos arrastar por suas encostas como um carrapato que vai em direção ao saco.

As paradas eram obrigatórias, faltava ar para superar a subida. O sol, deslumbrante, dava força a vegetação e tirava a nossa.

Lá em cima, no planalto entre os píncaros, onde o rio Prata desliza mansamente ou corre encachoeirado entre pedras, o clima, a vegetação e os ares são outros. Neste dia, um trafego intenso de motocicletas e carros tirava um pouco da paz ambiente. E corremos pela estradinha ensombreada de araucárias até a pousada Guaraná Quente.

Depois de um almoço delicioso ficamos descansando, mas a aventura ainda estava longe de terminar.

São várias as descidas da serra, mas tomamos o caminho, não, o trilho empedrado da fazenda da Mangueira. Mountain bike é um esporte que pressupõe pedalar por caminhos tortuosos, mas como disse bem o colega Carvalho: foi um empurrômetro só.

Houve tombos, pneus vazios e pedal quebrado. Mas isso tudo faz parte da aventura.

Lá em baixo o mundo se estendia como um lençol todo amarrotado com estradinhas que prometiam nos levar de volta a vida regular e à outros dias sempre iguais.       

publicado por joseadal às 12:24

Setembro 08 2013

Não se leva o corpo, sem a ajuda de motores, a 1.900 metros impunemente. O caminho para a nascente do rio Paraíba do Sul tem inclinações muito fortes, algumas até da para subir pedalando, outras só empurrando. (neste trecho estávamos a 900 metros, ainda subiríamos 1.000 metros)

Numa subida longa e íngreme, passa-se por dois estágios bem marcados. Primeiro o da euforia. O dia começa, a manhã está radiosa e a vontade de chegar lá no cume confere uma força irresistível. (com 65 anos Agnelo é brincalhão e estimula os jovens)

Depois, perto da hora do almoço, andamos por que não dá mais para pedalar. Então, com os bíceps, músculos das pernas, retesados de tanto empurrar os pedais, os tríceps, dos braços, hirtos de puxar o guidão sem descanso e o trapézio, dos ombros, doloridos, continuamos subindo, porque?

Então, o que nos move para adiante e para cima é o desafio. Contamos aos amigos que chegaríamos, neste domingo, 07/09/2013, ao alto da serra da Bocaina, a 1.900 metros, e não podemos desistir agora. Tiramos tempo de outras atividades para viver essa experiência de ver a nascente do rio Paraíba do Sul, lá no alto, então na dá para desistir. E o grupo avança empurrando os 10 quilos de cada bike morro acima.

O caminho da Asa Branca serpenteia pela encosta e o vale com seu mar de morros se esparrama aos pés da montanha. A cumeeira ainda está bem no alto, mas o grotão, o encontro entre dois morros e que é mais baixo, já está próximo. Então, o aclive termina, o terreno fica plano, montamos e pedalamos sentindo que os músculos que estamos usando agora são outros e estão descansados.

Estávamos avisados, chegando ao cume percorreríamos o terreno arenoso do altiplano. A vista é deslumbrante porque vemos despenhadeiros de um lado e de outro, da precária estrada. As intempéries que desgastam as pedras não o fazem igualmente. Assim, mesmo na crista da serra subimos e descemos os picos. A vastidão é impressionante e o ar é leve e puro.

O vento corre sem impedimento de árvores e solto acima da terra. A tarde avança rapidamente e nosso avanço é lento. O cansaço é visível tanto nos jovens quanto nos ciclista mais idosos. Mas onde estava a nascente?

A área pertence ao município de Areias, mas o acesso está em Silveiras, e nenhum dos dois se importa em colocar uma plaquinha de indicação. Um motociclista passa naquele ermo e nos indica que falta menos de um quilômetro. Mais um píncaro e vemos naquele terreno de vegetação rasteira e enfezada, um bosque bem regado por vários olhos de água que escorrem para o mesmo regato. Além, um banhado bem verde, mostra a fartura de água que vem... é, vem de onde, se já estamos acima de tudo? (foto do amigo Elder que mesmo esgotado estava sempre sorridente)

A volta é dolorida, mas aí somos movidos pela esperança de chegar lá embaixo, na vila, no restaurante do Sítio do Pinhal, para nos fortalecermos com a refeição gostosa feita por “dona” Marina.

Como a descida era agora o que predominava, enquanto levamos 3 horas e meia para subir, descemos em 50 minutos.

A noite caiu, o almoço virou jantar, mas estávamos cheios de alegria por termos alcançado nossa meta.  

publicado por joseadal às 23:41

Setembro 05 2013

No dia 4 de junho de 1944 - tinha eu dois meses e meio de vida - jovens ingleses, norte-americanos, canadenses, indianos, franceses, australianos e de outras nacionalidades, receberam ordem de arrumar seus equipamentos. Não tinham muitas informações, mas só a certeza de que entrariam em ação.

(o general Eisenhower dando as últimas instruções a tropa)

No dia seguinte, a expectativa era enorme e uma ansiedade muito grande eletrizava os campos onde estavam acampados. E então, naquela noite foram postos em movimento para embarcar em seus navios. Naquela madrugada começava o Dia D, 06/06/1944, a invasão da Europa.

(na carlinga do avião, corações aos saltos, os paraquedistas rezam ou choram; chegara a hora)

Hoje, sinto-me como aqueles rapazes, uma pontada de ansiedade começa a oprimir meu peito. Logo mais vou por em ordem minha bike: limpá-la, fazer alguns ajustes, azeitar a relação e a corrente, enfim, deixa-la pronta para rodar muito. Diferente daqueles guerreiros, eu e mais oito colegas, sabemos o que vai acontecer na madrugadinha do sábado, 07/09/2013, vamos colocar as bikes na carretinha e tomar nossos assentos na Kombi do Peixe com destino a Silveiras, SP. (situação como da vez em que fomos pedalar para o Boqueirão, só que desta vez ainda estará escuro)

Nossa missão: tomar de assalto a serra da Bocaina e chegar, qual um aguerrido pelotão de ataque, a nascente do rio Paraíba do Sul. Sairemos de 400 metros do nível do mar para 1900 metros em 25 km.

Que Deus todo Poderoso esteja conosco.

publicado por joseadal às 11:45

Setembro 02 2013

A paisagem está ali há muito tempo. Não é imutável, porém. As intempéries vêm remodelando-a faz tempo. Um olhar mais atento a este panorama revela, também, a ação do homem: a estradinha, as cercas limitando os pastos, a falta de árvores e outros detalhes. Assim, dizer que a natureza está bem do jeito que está e que eu não preciso me inserir nela, é uma falsa premissa.

Assim, neste domingo, 01/09/2013, - veja como o tempo está passando célere – um grupo de ciclistas entrou nesta cena bucólica. Com sua agitação, brincadeiras e muita falação, nos tornamos, por um pouquinho de tempo, parte da estrada, dos pastos, das montanhas e do céu azul. Se não tivéssemos ido pedalando até lá, como você que não foi, teria mudado alguma coisa na paisagem? Filósofos, pensadores sérios, dizem que a cada ação corresponde uma reação.

Então, quando atravessamos o riacho estabanando água e rindo e fazendo pilhérias, com certeza nossos gritos e movimento mexeram com aquele sistema, com a ecologia do lugar.

Outros pensadores chegam mesmo a afirmar que estava escrito em algum lugar dos universos que naqueles momentos em que a natureza parecia imóvel e silente, ela apenas aguardava a chegada dos humanos que iam mexer em sua quietude.

Por isso, quando você for convidado para um passeio montado em sua bike, pare um pouco e reflita: estou sendo chamado para completar a obra de Deus.    

publicado por joseadal às 11:28

Setembro 01 2013

Sempre acontece, por inúmeras vezes nos defrontamos com uma bifurcação.

Dizem até, que quando seguimos por um dos caminhos, numa outra dimensão do tempo, um nosso duplo tomou o outro rumo e está experimentando outras ações e recebendo o retorno delas. Outra maneira de ver as coisas é, frente aos dois caminhos, escolhermos um e torcermos para termos a chance de ainda passar pelo que desistimos. Ou então esquecermos dele definitivamente, dizendo: é, não tinha de ser.

Em um pedal passamos por uma estrada em busca de um lugar ou de um ponto máximo de onde voltamos. Neste afã vemos pequenos caminhos partirem para o desconhecido. Assim acontecia nesse ponto da estrada Barra Mansa – Amparo. Víamos o desvio se perder entre os morros e nunca entrávamos por ele. Num mundo com tantas criaturas alguns entraram por ali e contavam da trilha que batizaram de Manilhão. De real, existe numa descida de trilho fundo uma manilhas esparsas, talvez do que fosse um conduto para águas pluviais.

Como se disse no princípio deste relato: há sempre novas bifurcações. E quando passamos pelo Manilhão a semana passada nos defrontamos com essa outra. Tomamos, então, o rumo à esquerda. Neste sábado enveredei pelo da direita. Depois de um curto trilho de lá-vai-um

saí numa estradinha de fazenda com vários trechos de costelinha. Não sei como são feitos, desconfio que seja com as pisadas – sempre nos meus lugares – das patas do gado.

Um caminho novo, um que é um ramo de estradas bem batidas, aumenta nossa sensação de liberdade e testa nossa mente naquele fenômeno tão estranho, o deja vú.   

publicado por joseadal às 02:18

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