Andar de bicicleta, não no meio do trânsito e com os sentidos todos em alerta, mas nas trilhas fora da cidade nos dá o ensejo de refletir, pensar com profundidade.
O papa Francisco em seu tratado Evangelii Gaudium, a alegria de evangelizar, disse: “Recordo também a alegria genuína daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples”. São heroicos, esses irmãos que trocam um dia de trabalho que começa às 4 da matina e termina com sua chegada em casa às 19 h por míseros reais. E como conseguem manter um “coração crente, generoso e simples” é um mistério da fé. Mas quem pode pedalar consegue tempo em sua vida para meditar e melhorar seu coração.
Nesta última subida ao alto do Robertão, enquanto punha toda força nos pedais para levar a bicicleta até lá em cima, mesmo trocando ideias com os colegas, encontrei oportunidade de pensar sobre a obra de Deus.
Siga meu pensamento só por um momento. Pensei nas naves robôs que colhem material do solo marciano e o examinam, lá mesmo. Tudo que encontram é mineral. Não acham nem um resquício de organismo orgânico. Mas se o material fosse colhido nesta subida saibrosa da serra, os aparelhos encontrariam resíduos minúsculos de plantas, insetos e animais. Essa fartura de matéria orgânica, que já conteve vida e é essencial para estarmos existindo neste planeta, faz parte do Grande Projeto Vida. O cientista Steven Benner explicou numa conferência de doutores, em Florença:
“Acredita-se que o RNA (ácido ribonucleico) foi o primeiro a surgir na Terra, há mais de três bilhões de anos. Uma possibilidade para a formação do RNA a partir de átomos, como carbono, seria o uso de energia (calor ou luz). No entanto, em nossas experiências, isso produz apenas alcatrão. Para criação do RNA, os átomos precisam ser alinhados de forma especial em superfícies cristalinas de minerais. Mas esses minerais teriam se dissolvido nos oceanos da Terra naquela época”. Nós humanos, pelo menos os estudiosos, já sabem como a uma molécula mineral se torna orgânica (ganha vida), mas não sabem fazê-lo. “Minerais que contém elementos como boro e molibdênio são fundamentais na formação da vida a partir dos átomos. Os minerais de boro ajudam na criação de aros de carboidrato, gerando compostos químicos que são posteriormente realinhados pelo molibdênio. Assim surge o RNA. Mas o ambiente da Terra nos primeiros anos do planeta [modo de dizer, a Terra já vinha se formando há 1 bilhão e meio de anos], seria hostil aos minerais de boro e ao molibdênio. É apenas quando o molibdênio se torna altamente oxidado que ele é capaz de influenciar na formação da vida. Esta forma de molibdênio não existia na Terra quando a vida surgiu, porque há três bilhões de anos a Terra tinha muito pouco oxigênio.”. Daí ele chega a uma conclusão para o início do Grande Projeto Vida: “O mais provável é que a vida na Terra tenha chegado por um meteorito, em vez de ter surgido no nosso planeta”.
- Zé, então não foi preciso Deus para existir a vida?!
Toda especulação dos cientistas só afirmam que Deus é muito, muito maior do que pensamos. E também que as palavras simples da Bíblia só resumem um plano grandessíssimo: “Então, do pó da Terra, o Deus Eterno formou o ser humano. Ele soprou em seu nariz o sopro da vida”. Foi assim, mas muito antes ele fez isso no cavalo selvagem e no lobo, nos dinossauros e nas plantas. Para que cadeias de minerais se replicassem e formassem organismos vivos era preciso “o sopro de vida”. E isto ainda é um mistério.
Tudo isso pude pensar em cima de minha bike. Ou empurrando ela.