No começo da manhã um frio penetrante nos esperava em cada sombra que passávamos.
Mas o sol que nascera a pouco não deixava dúvidas de que o dia seria cheio de calor, som e cores. Os infinitos raios e vibrações que vêm de nossa estrela entravam pelas folhagens e ramos despertando animais e pássaros que começam a cantar e ciciar. E as cores que durante as trevas da noite ficaram obliteradas ganharam destaque, foram soltas e saltaram a vista. Por isso, desde que deixamos para trás o casario de Valença e seguimos pelo asfalto até Rio das Flores uma tremenda energia explodia em sons e cores.
Parávamos a todo instante para registrar os belos lugares pelos quais passávamos: um barranco de rio, uma igrejinha que pouco abre para os fiéis,(Sagrado Coração de Jesus, em 3 Ilhas, Belmiro Braga, MG)
uma velha ponte e as sombras em que parávamos, porque o velho sol estava inclemente.
Por todo o caminho o som das águas nos acompanhava. Ora marulhando num córrego, logo resmungando nas corredeiras ou deixando fluir um som cristalino quando a pegávamos numa bica – perigosas bicas de Valença.
O trajeto foi quase plano, ora girando os pedais, ora deixando a bike correr numa descida. Só na chegada de São José das 3 Ilhas é que pegamos uma subida forte, mas longa, esticada, dando voltas nos morros e que era um exercício razoável, para quem pedalava sob uma forte canícula.
(foto de Fabiano66)
Mas chegamos na rua calçada de pés-de-moleque e ao bar com seu velho balcão que nos recebeu à sombra com cerveja, refrigerante e água gelados.
Depois, seguimos admirando e fotografando o casario do século XIX, bem cuidado, cheio de cores vibrantes e em que o som do silêncio sobressaia, refrescando nossos ouvidos tão feridos pelos sons da cidade.
E a catedral observava aqueles minúsculos seres agitados que lhe admiravam e entravam por dentro de suas paredes grossas que deixavam as cores vibrantes e os barulhos do lado de fora. Os santos e imagens em pinturas fortes nos foram vedados mostrar. Mas nossas máquinas, inquietas, sempre se esqueciam em guardavam uma figura num nicho ou a nave na penumbra.
Mas era só chegar numa janela que a luz entrava em jorros feito um tsunami saindo de um prisma.
O almoço, conforme prometido pelo nosso colega 171,
foi mesmo a sombra da catedral. Uma almoço com sabor de fogão a lenha e tempero de uma cozinheira experimentada e que ama alimentar o próximo.
Depois foi rodar por caminhos de chão e de asfalto. Olhos protegidos do clarão de luz por óculos frescos ou sérios. Foi um lindo passeio.