bikenauta

Maio 25 2014

Hoje foi dia de Audax em Volta Redonda, cheguei a ver a largada, mas não participei. Pedalei, pois não posso perder minha pedalada semanal, mas enquanto os amigos corriam por 200 km fiz um pedal incrível de 40 km.

Foi o dia de apresentar a beleza do mountain bike para Trindade Igrejas.

Por vários motivos essa volta pela trilha do Peixe e Amparo foi especial. Minha amiga já não é uma menina, mas crê firmemente que sempre se pode começar uma nova atividade. E queria provar a si mesma que podia fazer um longo pedal. Rodrigo nos acompanhou por um bom pedaço do caminho.

Além disso, meu prazer de acompanha-la foi grande porque ela sonhava em fazer um bom trajeto de bike desde que era garota, no Conforto.Conta que então, andava na bicicleta de seu pai. Com o quadro “batendo no sovaco” enfiava a perninha para o outro lado e saia pedalando folgada no meio de transporte do seu Sebastião. E assistir o prazer de outra pessoa em andar por caminhos da roça é muito bom.

Ela não tem uma vida sedentária, como professora de Odontologia. Há anos faz caminhadas com velhos conhecidos meus. Então, com que admiração vi a iniciante subir e descer caminhos – bem verdade que algumas vezes empurrando – mas sem esmorecer.

Num passeio - diferente do Audax que nem tempo de tirar foto a gente tem - tem-se oportunidade conhecer lugares bonitos e até parar para fotografar.

Perguntei se depois do passeio de hoje chega de bicicleta. Ela disse que muito pelo contrário, agora vai buscar oportunidades de “sentir o vento no rosto” de cima de sua bike.

publicado por joseadal às 22:11

Maio 19 2014

- Ah Zé, hoje você vai falar de belas ciclistas?

Estou me referindo aos belos recantos, ainda escondidos, nas terras do município de Bom Jardim, nas Minas Gerais. Como está acontecendo em todos os lugares, há três meses ali foi formado um clube de ciclistas. Um vereador que é ligado a este esporte conseguiu motivar a secretaria de Esporte, Laser e Turismo e realizaram o 1º Trilhão de Bike. Os Pedaleiros da Serra e o governo municipal estão de parabéns. As belezas de sua terra foram vistas por mais de uma centena de amantes do mountain bike de lugares tão distantes quanto Juiz de Fora, Valença e Volta Redonda.

Neste domingo, 18/05/2014, a praça em frente a um colégio ficou cheia de alegres desportistas. A manhã de sol nublado e com um vento frio serrano fazia que a pequena multidão se mantivesse bem ajuntada. Era uma visão prazerosa os abraços de amigos que a tempos não se viam e o sorriso no rosto das pessoas nos pequenos grupos que falavam animados.

 

Uma tenda armada fervilhava de participantes que se inscreviam, assinavam um termo de responsabilidade e contribuíam para ajudar um jovem.

Um som estimulante saia dos alto-falantes, até ser interrompido por um dos organizadores que explicou alguns arranjos feitos para nos auxiliar no percurso.

E as ruas de Bom Jardim foram tomadas pelas bicicletas, era lindo de se ver.

Corremos pelas ruas asfaltadas até que saímos do perímetro urbano e corremos pela estrada de terra. No começo o terreno era plano, mas logo pegamos uma subida forte para vencer um morro grande à esquerda. Virando a serra descemos num belo vale onde o caminho virou um trilhozinho estreito no meio de uma vegetação baixa e dominada pelas araucárias.

Era um perigo, pois o chão tinha muitas raízes altas. Mas não demorou muito e voltamos a estrada. Porém, por pouco tempo. Num ponto de apoio onde um carro nos oferecia água voltamos a subir, e subir muito. Era um morro após outro, cada um mais alto e com muitas pedras soltas e miríades de pelotinhas de ferro que faziam o pneu deslizar. Quem descia da bike tinha a maior dificuldade para subir novamente, por causa da inclinação do terreno.

Mas aquela parte pior, que tornou melhor o Trilhão, não durou muito e logo pegamos uma descida em que as bikes pareciam voar. Observe as fitas que nos auxiliavam no percurso.

De volta a estrada vimos a cidade e o cruzeiro no alto de outro morro. Então foi acelerar para chegar ao ponto em que tudo iniciou e cercados de amizade almoçar uma comida farta e feita com muito carinho por amigas voluntárias.

Que belo dia passamos! Quanta coisa bonita Bom Jardim tem pra mostrar.

      

publicado por joseadal às 18:15

Maio 10 2014

Quando, deixando o asfalto, embicamos nossas bikes pela estrada de chão e começamos a subir de Lavras para Carrancas, nossos olhos libertos dos entraves dos morros, viram um paredão de pedra. (observe bem à esquerda, vindo lá de longe, dos lados de Ribeirão Vermelho)

Rodamos e rodamos, passamos por Itumirim e continuamos subindo, e lá estava a muralha granítica. Sabe quando você se sente observado e volte e meia relanceia o olhar para ver quem é? Assim, sentíamos em relação a serra que como um longo muro não conseguíamos deixar para trás. Pelo caminho há muros feito de pedras chatas, resultado da utilização da rocha que se formou em camadas.

Pensava comigo: como foi feita aquela megasequencia? Procurei ajuda dos estudiosos de geologia e encontrei um trabalho do Serviço de Geologia: http://www.cprm.gov.br/publique/media/rel_nepomuceno.pdf

Se for olhar vai ver que está escrito em grego, quer dizer, está escrito com termos geológicos que nada significam para um leigo. Na p. 4, por exemplo, diz: Grupo Carrancas (1000-541 Ma. Toniano-Neoproterozóico III) – unidade quartzítica (NPcq) quartzitos; filito, metaconglomerado. Traduzindo: aquela serra faz parte de um setor chamado Grupo Carrancas. Foi formada entre um bilhão de anos e quinhentos e quarenta milhões de anos, por sucessivas deposições de areia e outros materiais que desceram de altas montanhas que existiam naqueles tempos titânicos. Na p. 9 aquele paredão é chamado de Sequência Deposicional Carrancas, por que durante 500 milhões de anos a erosão das montanhas que não mais existem...

- Se não, a gente subia elas com as bikes, né não Zé?

Como ia dizendo, os sedimentos foram se depositando uns sobre outros formando um bolo com muitas camadas que sob o próprio peso – pressão gera calor – mudou o material tornando-o uma rocha sedimentar com predominância quartizítica, quartzo, a areia que parece vidro ralado. (lá está ela, a muralha, contínua e incansável, neste trecho o caminho vira à direita em direção a ela)

Então, como é que se formou o paredão de pedra feita de material reciclado? Nos últimos quatrocentos milhões de anos um antigo chapadão foi sendo corroído pelo vento e pela chuva, pelo calor do sol e pelo frio do inverno. O solo mais frágil foi sendo levado e a velha rocha feita de reciclados ficou de pé. É ela, um metaconglomerado, que nos acompanhou durante todo pedal. Ah sim, numa parte mais alta do caminho acabamos passando por um intervalo da serra, mas não ficamos livres. Lá no final do Desafio Lavras-Carrancas, estava outro pedaço dela.

Nos desafiou sem piedade: ainda te restou alguma força nas pernas? Então me vença.  

publicado por joseadal às 00:54

Maio 02 2014

Por sete horas nossas bikes treparam colinas e subiram morros nos levando a um altiplano que espalhava o mundo.

O contínuo subir e subir derrubava todos os limites e o homem habitualmente confinado entre paredes se via solto como um pássaro no céu. Era só com a força de nossas pernas e braços que vencíamos os domínios das águias e gaviões. Jacus repetiam suas chamadas pelas brenhas que os desafiados ciclistas corriam ou se arrastavam.

Para o aficionado por mountain bike que participou de dezenas de provas o Desafio Lavras-Carrancas teve uma organização impecável. Não pedalávamos dois quilômetros sem passar por algum cruzamento ou bifurcação, a possiblidade de ter 500 ciclistas perdidos no chapadão era completamente possível. Assim os amigos organizadores bateram anticipadamente todo o trajeto fechando com uma linha bem visível de cal por onde não devíamos entrar e desenhando setas por onde devíamos seguir.

Naquelas lonjuras, muitos mata-burros tem o sentido longitudinal, prato feito para um tombo feio. Mas uma marcação gritante nos avisava de cada ponto perigoso, fosse uma curva fechada com uma ponte estreita impossível de se ver a tempo, fosse um trecho pedregoso e cheio de valetas.

No alvorecer do dia 1º de maio de 2014, dezenas e dezenas de homens e mulheres saíram do meio de Lavras como uma revoada de formigas voadoras e correram pela beira do asfalto até largar o mundo civilizado e entrar pelo mundo das emoções fortes. Subindo com imenso esforço ou descendo vertiginosamente corríamos o tempo todo o risco de um acidente ou mal-estar.

O evento juntou no fim do cortejo uma caminhonete para recolher as bikes quebradas e duas, não era uma só, eram duas as ambulâncias que como anjos da guarda nos acompanhavam. Foram várias as intervenções delas para levar para fora da imensidão de morros os que ficavam sem forças.

O ar seco que fazia a vegetação ali naqueles altos ser do tipo caatinga também ressecava os esforçados desafiados. Então em três pontos dos 70 km, no meio do nada encontrávamos aqueles benvindos oásis com água e frutas. Tudo perfeito para ajudar-nos em nossa imperfeição humana.

E não parávamos de pedalar.

O Desafio Mountain Bike Lavras-Carrancas não é uma corrida, é uma prova que submete o ciclista aos limites de sua perseverança, coragem e resistência. Para o leigo em ciclismo de trilhas pedalar 70 km é quase inimaginável, porém para quem pratica esse esporte é uma distância bastante confortável. Raramente uma pedalada vence menos que essa distância. Mas passar tantos quilômetros só subindo e fazendo força nas pernas e braços é um evento que não nos acontece com frequência. É um Desafio que você precisa enfrentar pelo menos uma vez na vida.

Quando, logo depois de uma curva, já num trecho mais plano, demos de frente com um ponto de apoio, um ônibus para recolher os muito esgotados e o asfalto que indica que só restam 10 km pela frente, sentímos um imenso alívio. O Desafio estava terminando, bate até uma saudade do início da prova há seis horas atrás. Então corremos para a chegada cheios de alegria por termos conseguido fazer o percurso.

Espere aí! Que troço é aquele lá na frente? Cadê Carrancas, gente? Quem botou aquela muralha lá na frente? Tão de sacanagem com a gente! Não adianta reclamar amigo desafiado de primeira viagem. Para chegar ao objetivo você ainda tem que vencer o subidão. Descendo a ladeira do asfalto e nos aproximando do imenso paredão a gente vai ficando assustado. Jovens empurram suas bicicletas já com a resistência no limite. Digo para meu colega próximo: É vou abrir o bico. Ele responde com palavras divinas: Não desista antes de tentar, Zé; vamos ver até onde aguentamos ir. E os músculos esgotados, pinicando, querendo abrir o berreiro numa câimbra braba vão empurrando os pedais e vamos subindo metro por metro.

São cem metros até a primeira curva. Carros passam por nós carregando as bikes. São jovens esportistas em plena flor da idade que chegaram ao ponto final muito antes do velho ciclista.

Mais cem metros e outra curva. Porque a estrada, lá em baixo, vira primeiro à esquerda, depois à direita nos jogando de cara com a pedreira esmagadora, e torna a virar à direita para subir a terrível encosta. Passo por jovens que se arrastam empurrando suas bikes e nos meus 70 anos brinco com eles: estão dando um descanso as magrelas, garotada? E continuo rodando os pedais.

Mas por incrível que pareça – deve ser coisa da mente da gente – não estou hiperventilando, ficando sem ar ou com as pernas sem forças, não, consigo um ritmo ideal e lá vou serra acima numa boa.

Ao virar a montanha, aí sim, lá está Carrancas esparramada entre paredões de pedra e cercada de rios e cachoeiras. Lugar abençoado. A descida é vertiginosa e o vento forte quase arranca a bike do chão. Segurando firme nos freios o ciclista chega ao ponto final. Carros e mais carros saem carregando as bikes como animais de estimação. Entramos no terrenão que é um formigueiro de ciclistas alvoroçados e faladores, todos se dando o parabéns por terem vencido o Desafio. Hora de receber a medalha e posar para a foto.

Orgulho misturado com gratidão, é isso que o ciclista sente ao mesmo tempo em que pensa: obrigado meu Deus.

Ah, sim, ano que vem vou precisar da ajuda do Senhor novamente, porque vou voltar ao Desafio Mountain Bike Lavras-Carrancas. 

publicado por joseadal às 15:40

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