bikenauta

Julho 28 2014

Parece um bumerangue. Quando saímos a pedalar somos impulsionados por duas forças, como todo universo. A vontade forte dentro da gente de ganhar mundo, pegar uma estrada e ir embora afirmando nossa liberdade, é o impulso que nos faz deixar a cama quentinha e ir pra rua de tempo encoberto e frio. Como ontem, 27/07/2014, quando eu e o amigo João pegamos um ônibus e fomos à Paraíba do Sul.

Tomamos um café, encontramos três jovens ciclistas de Três Rios e atravessamos Paraíba do Sul.

Depois da ponte subimos para Paty de Alferes. Uma longa subida vencendo morros cada vez mais altos, contraforte da serra. A atmosfera fria o céu encoberto é típico do inverno, tempo bom de pedalar. Nossa energia rende mais.

Passamos por Paty onde tenho alguns conhecidos que pedalam, mas não paramos. Tocamos para Miguel Pereira e para o almoço.

Falei de duas forças que nos movem, a outra é o calor e o amor do lar. Lar, a lareira, onde nossa alma se sente aquecida e onde se abriga em confiança com a esposa e filhos. Nesta altura do passeio esta atração começou a nos puxar. Em especial, por que delimitamos o pedal em seis horas e restavam pouco mais de duas. Almoçamos enquanto a chuva começava a cair, fraca. Restava um quarto do percurso e não pudemos refugar a ficar molhados. Tocamos pra frente com toda força. Estava testando minha bike levinha, adquirida da amiga Sandrita. Minhas pernas agradeceram pela Scott gostosa de pedalar. A água escorria do capacete e estávamos encharcados, mas aquele trecho da serra fica mais bonito nos dias encobertos e com pouca claridade. Passamos por Morro Azul e Sacra Família.

E logo pegamos o descidão e entramos em Vassoura com seus paralelepípedos irregulares que para uma bike leve e sem amortecedor traseiro é um castigo. Castigo para meus fundilhos.

Fiquei preocupado de ter trazido o colega num pedal assim. Pensei: perdi outro parceiro da bike. Mas fiquei alegre quando na rodoviária, tomando um café quente com uma dose de pinga com mel, ele disse: Foi um pedal muito legal, Zé. Colocamos as bikes no bagageiro e deixamos o ônibus correr parecendo ser puxado pela nossa vontade de chegar em casa. 

publicado por joseadal às 12:58

Julho 17 2014

Tendo compreendido a partir de uma história do colega Marcinho da seriedade de dizer “nunca mais” evito usar essas duas palavras para falar da trilha do Carrapato. Mas sabe o que é? É uma trilha curtinha e me enche de coceira com as picadas de insetos da capoeira e da mata.

Mas como era um grupo no qual tenho dois bons amigos, decidi passar por lá novamente. E tem aquele sempre agradável momento em que se deixa o asfalto e adentramos um caminho de terra.

Logo vem um pasto enxameado dos artrópodes que dão nome a trilha. Lá em cima o visual também é bonito, dá gosto parar pra ficar olhando.

Depois vem uma descida esburacada que é ótima para testar os reflexos e o equilíbrio. Até que se entra na mata por um trilho estreito que me desperta dez anos de recordação: a primeira vez que passei ali com os colegas Celmo e Val, o velho leiteiro que sempre encontrava carregando dos galões de leite em seu cavalo branco e o touro que infalivelmente estava deitado perto de uma porteira parecendo me esperar passar.

Finalmente é descer pra Arrozal. Se me chamarem novamente, o que vou dizer? Aquelas duas palavras não quero usar, então é bem capaz que volte a trilha do carrapato. Falando nisso tenho que comprar outro tubo do antialérgico a picadas de insetos.    

publicado por joseadal às 22:15

Julho 11 2014

O caminho estreito, longe dos avanços tecnológicos, é ótimo para se pensar e refletir. Por ele carros passam muito raramente, não há música alta e gente se dando encontrão. Então, pode-se abstrair, relaxar a vigilância e se voltar para dentro de si mesmo. Na estrada de chão na qual seguia para Bocaina de Minas pude desenvolver um pensamento: o que foi o anarquismo no fim do século XIX. Tinha lido num pequeno tratado que a palavra vem do grego e significa: an (sem), archon (governo). Os primeiros a pensarem isso eram idealistas sonhadores e descreviam seu sonho, assim: “os anarquistas buscam ordem e liberdade para todos, sem exceção, mas nada imposto por outras pessoas e sim um processo natural que viria da disciplina própria de cada um e da cooperação voluntária, pois o essencial era isto: obedecer às leis da natureza do seu modo, ficando livre para viver em paz com seus companheiros”. A ideia ganhou duas vertentes, o Anarquismo e o Socialismo.

Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), que escreveu Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo, ensinava que “a única fonte legítima de propriedade é o trabalho. Tudo que uma pessoa produz é por direito dela e nada além disso o é. Que cada indivíduo tenha por direito a posse das ferramentas ou da terra para produção, sendo sempre 'vigiado' pela sociedade que regulamentaria e organizaria tal produção”. Ele lançou as bases da autogestão.

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), o mais famoso anarquista, disse: “O coletivismo, é o futuro do mercado. Nele os trabalhadores administrarão seus meios de produção através de suas próprias associações numa tentativa de conseguir resultados mais expressivos”. Foi o idealizador da cooperativas.

Assim, o anarquismo não é o caos, como querem fazer das manifestações de protesto, mas um andar comandado por sua própria consciência e pensando no bem comum.

publicado por joseadal às 00:11

Julho 07 2014

Há tantos lugares bonitos para se pedalar! Só pedalar já é bonito e gostoso. Mas vou “bater pra tu”, pedalar no Rio de Janeiro é tudo de bom.

Ontem, 06/07/2014, botei a bike num ônibus e fui bem cedinho para lá. Às primeiras horas da manhã a luz do sol é de um amarelo ouro que torna tudo mais real. A Candelária brilhava fazendo esquecer tantas barbaridades acontecidas em suas calçadas.

Pelas ruas estreitas do Rio antigo toquei para o Aterro. Vocês precisam ver a consciência que vai tomando conta de uma metrópole. As pistas de alta velocidade estavam vazias de carros e todas à disposição dos ciclistas. Para uns poucos e para grupo de treinamento.

Fui procurar o local onde vou realizar a 1ª Manhã de Autógrafos Ciclística do Rio de Janeiro. Escolhi o posto 2 da praia do Flamengo com o Pão de Açúcar bem defronte.

Então, saí batendo o caminho pelo qual quero levar a turma até o Cristo Redentor. Entrei na pista vazia, corri para a rua Alm. Alexandrino e comecei a subida para Santa Tereza. Em pouco estava andando entre os trilhos do bonde. O bairro todo aguardo ansioso e reclamando a volta dos bondinhos. A homenagem a seleção foi dos jogadores num dos antigos bondes com balaústre e estribo.

 

E toca a subir, pouca inclinação, própria para o veículo sobre trilhos. Fui até o Silvestre, ponto final. Aí é que começou a subida com uma inclinação mais forte. Não ouça as reclamações das pernas, continue pedalando, pois bem lá em cima vamos virar para o Mirante de Santa Marta. Meu Deus, dá gosto ver o que as forças da Natureza – com certeza seguindo um planejamento divino – fez para os homens colocarem a Cidade Maravilhosa!

Desce-se um pouco e se torna a subir. Seja valente, como foi sua mãe. Suba, suba, suba, mas bem encostado porque os micro ônibus passam zoando lotados de turistas. Então, chegamos aquele mar de gente esperando outro micro pra chegar ao pé do Cristo. Mas quem tem bike e os visitantes mais animados sobem pelas próprias forças. E haja força. Vá apreciando a paisagem> Olha o Maracanã, gente!

  

Longe de mim te desanimar, mas não fique perguntando se ainda está longe: pegue a tua cruz e siga subindo. Dói tudo? Dói, mas se quiser desça e empurre. No meio da vegetação você o verá mais de perto e de costas.

Continue com esperança de que afinal o morro tem de acabar. E acaba em outro mar de gente. Negros de cor diferente, indianos, passam falando esquisito. As louraças alemãs e belgas com os guarda-costas ao lado. Franceses morenos e sua bela língua.

E a beleza do Rio por toda a volta. Para subir os degraus e abraçar o Cristo tem de pagar ou ter vivido tanto quanto eu.

Depois é descer com o visual lindo em toda a volta. Isto tudo pode ser teu se quiser vir ao Rio dia 20/07 para a 1ª Manhã de Autógrafos Ciclística do Rio de Janeiro. Se você mora no Rio não deixe de vir com a gente.

- Em tempo, Zé estará vendendo e autografando seu livro: Adão, Feito da Terra. A história e a arqueologia desvendando a vida desse homem que influenciou a todos nós. Suas 508 p. custam só R$48,00.   

publicado por joseadal às 14:26

Julho 04 2014

Grande perigo há em seguir um cavaleiro andante.

- Já dá pra ver que estás lendo Dom Quixote de La Mancha, Zé.

Um homem com ideais e com certezas inamovíveis, é sempre perigoso. Ele convence outros a lhe seguir as ideias e leva os pobres a desmandos e dificuldades que só ele vê como grandiosas aventuras.  “Solicitou Dom Quixote a um lavrador seu vizinho, homem de bem e pouco sal na moleira; tanto em suma lhe disse, tanto martelou, que o pobre rústico se determinou em sair com ele, servindo-lhe de escudeiro”. Assim é que o timorato Beto consegue, a cada semana, tirar do sossego de seu lar, uma chusma que sai pedalando toda alegre. Vencem subidas, atravessam riachos e espalham lama com a alegria de quem estivesse num parque de diversão.

- O mesmo se dá com você, Zé, que convida, chama e apela até convencer um magote de homens a deixar a poltrona confortável para pedalar sabe-se por onde.

Aquele que se acha cavaleiro, que pensa reformar o mundo, seja com uma bíblia na mão ou sentado em um selim, não pode esquecer a tentação. Não digo que a semelhança seja inteira, mas que faz igual ao outro não se pode negar. Ele sempre chamando, oferece: Tudo isso te darei se pegares tua bike e me seguires. “Dizia-lhe entre outras cousas Dom Quixote, que se dispusesse a acompanha-lo de boa vontade, porque bem podia dar o caso que do pé para a mão ganhasse uma ilha, e o deixasse governador dela. Com essas promessas e outras quejandas, Sancho Pança, que assim se chamava o lavrador, deixou mulher e filhos e se assoldadou por escudeiro do fidalgo”.

Quando se lê, depois, o resumo de suas fabulosas aventuras, nunca li que Beto, o fidalgo, tenha caído, rebentado a corrente de sua bike ou só furasse o pneu, não. Mas sempre tem a contar dos percalços que seus seguidores passam. Assim, é o Zé. Às vezes o parceiro das pedaladas reclama dos difíceis caminhos que para o guia sonhador, por ser pior ficou muito melhor. “A mim não me deram vagar, respondeu Sancho, quando logo me benzeram os lombos com os paus; e pouco me importa saber se foram afrontas, ou não, as bordoadas”. Mas não se apoquente, paciente escudeiro, pois o Guia tem sempre uma palavra de incentivo: “Sabe, irmão Pança, que não há lembrança que se não gaste com o tempo, nem dor que por morte não desapareça”.

- Vá de retro!

Mas é, e na semana seguinte, passado as canseiras e já com cascas nos arranhados, lá estão eles todos felizes reunidos na padaria para saírem em mais um aventura.

- Mas quem chama para um pedal devia prover um carro de apoio...

E um mecânico, uma ambulância, pontos com água gelada e frutas. Mas convenhamos, aí o pedal vira uma academia ao ar livre. Perde-se a aventura. Desde quando a bicicleta foi inventada pelo alemão Barão Karl von Drais, em 1817, ela é considerada um meio de transporte muito instável. Só com duas rodas pode tombar para a esquerda ou para a direita. Então, quem se aventura a seguir uma estrada com sua bike sabe muito bem que está testando seu equilíbrio e bom senso. Assim, mantenhamos o ciclismo no ramo incerto das aventuras, do inesperado.

Quando Zé chama os colegas, insiste mesmo com eles, para subir uma montanha, ele visualiza mais do que a subida que leva o ciclista a ver o mundo lá do alto. Ele quase imagina que lá em cima coisas fantásticas ocorrerão.

Quem lidera uma pedalada nunca está muito distante do Cavaleiro da Triste Figura, que dizia: “Sabe, amigo Sancho, que a vida dos cavaleiros andantes está sujeita a mil perigos e desventuras, assim como, sem mais nem menos, estão eles sempre muito próximos de subirem a reis e imperadores”. E tem gente que acredita!       

publicado por joseadal às 01:17

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