Duas histórias sobre o pedal nas serras de Passa 4.
- Lá vem ‘seu’ Zé com sua imaginação.
São fatos reais, porém carregados de transcendentabilidade.
Na manhãzinha de domingo, 09/11/2014, levei Malu para passear às 4:30, o chão estava todo molhado. Depois de aprontá-la e abraçar Lili, corri para a rodoviária. No ônibus, na altura de Rezende a chuva despencou forte. Não tirava os olhos do limpa-brisa que continuava firme.
Em Queluz fiz uma oração: Pai Eterno, planejei ver as belezas da sua criação nas serras de Passa 4. Sei que precisamos muito de chuva, mas se for de Vossa vontade faça que ela dê uma trégua naquele lugar.
Pois, entrando em Cruzeiro a chuva virou um chuvisco e quando apareceram as primeiras casas de Passa 4 um sol muito belo clareava tudo.
Subimos a serra em direção ao Pico dos Marins e lá do alto vimos a chuva tornar a cair.
No altiplano o tempo alternava sol com nuvens carregadas. Quando cheguei a estrada de Marmelópolis e entrei à esquerda para vencer a serra e pegar o descidão de Piquete o chão estava um barreiro tremendo.
Num bar me disseram que havia chovido até a pouco. Quando rodei pelo asfalto de volta a Cruzeiro, pedalando sem parar a sete horas, o céu estava pesado e foi chegar a rodoviária a água caiu.
- Mas que sorte ‘seu’ Zé. Foi muita sorte não ter pegado nem uma gota de chuva.
Prefiro crer que Deus é Pai, não é padrasto.
A outra história começou quando rodava saindo de Passa 4 na direção da serra. Passando por
‘seu’ Jorge fazendo caminhada, disse:
- Vou para o pico dos Marins, a subida é aqui na frente, não é?
- Desculpe perguntar, o senhor vai sozinho?
- Não, vou com Deus e um monte de anjos.
- É que tem pelo menos três caminhos até o alto e lá em cima há muitas entradas; é muito fácil se perder. Mas o senhor entre ao lado da igreja católica, siga até a linha do trem e logo vai ver uma estrada.
Quando cheguei na estaçãozinha, lá vinha um ciclista.
- Vai subir a serra.
- Vou sim, vou para o pico dos Marins. É por ali?
- Por ali também vai pra lá, mas é um caminho muito inclinado. Vou pra lá também, por uma subida mais leve, a Estrada da Companhia.
Numa lista que tinha conseguido falava dessa subida mesmo. E segui seu José Aparecido. Percebeu o nome, Aparecido?
Lá em cima ele disse:
- Hoje eu ia subir para outro lugar, mas na última hora me deu vontade de vir pra cá. Olha pra cá é muito difícil vim ciclista. Eu é que gosto de andar na serra.
- Não se admire, ‘seu’ Zé, eu bem tinha pedido um anjo guia.
Subimos duas horas num convercê muito legal. Ele conhece tudo por ali e já deixamos combinado uns três pedais lá por cima. E olha que ele não usa uniforme nem capacete! Ele disse que voltaria pela estrada mais inclinada, a do Caxambú. Mas decidiu me guiar até bem na frente.
Num desvio ele perguntou:
- Aqui qual caminho o senhor pegaria?
- Bem, como quero descer pra Piquete e lá fica à esquerda pegava esta.
- Isso mesmo. Se fosse pela outra ia para Serra Verde e Virgínia.
Mais adiante, deu meio-dia.
- Estou preocupado com o senhor, volte daqui.
- Vou só até aquele desvio. E aí qual caminho ia pegar.
- Aposto na esquerda de novo.
- Aí ia dar no meio das plantações de eucalipto e podia se perder. Num domingo, por aí não se vê ninguém. Vá pela direita e vai encontrar muitos sítios para pedir informação, água e ajuda. Agora vou enrolar meu cigarrinho, dar umas tragadas e volto.
Dei um tapa também. E lá se foi meu ano da guarda.
Dez quilômetros a frente saí na estrada de Marmelópolis que já conhecia. Aí foi entrar à esquerda e subir, subir e subir até a virada da serra. Pedalei no meio das nuvens.
Aí vi a bela vista do vale do Paraíba. Atrás ficaram as serras cobertas de nuvens e de mistérios.
E aí não existe coisas estranhas?