Esta foi “dona” Cidinha, moradora em São João Marcos lá na década de 1930.
Rosto redondo, cabelos longos e uma boquinha pequena que sorria como Gioconda. Seu vestido estampado e folgado não deixa ver suas formas, mas pelos braços torneados adivinho sua pernas firmes e morenas. Uma mulher do tempo dos “coronéis”, talvez filha de um, criada com severidade para servir aos homens. Mas esta bicicleta que ela segura possessivamente muda toda a impressão sobre ela. Faz que a vejamos determinada, que sempre quis escolher suas companhias, em especial o homem que deitaria com ela. Foi uma Penélope muito charmosa. Com essa bike sem marchas ela deve ter ido muitas vezes à ponte Bela. Com certeza montada de vestido foi tomar banho na cachoeira de Mucundu. E talvez tenha se aventurado até a serra do Piloto. Aquele corpo que só posso adivinhar já não existe, virou pó. Mas aquela moça que viveu e andou de bicicleta há muito tempo não desapareceu. Ficou na foto, na lembrança de algum descendente e na minha. Deixou a marca de sua passagem neste mundo e na história. E para quem tem fé, como eu, ela ainda vive num lugar que não sei se tem bicicleta para pedalar.