Um caminho que ainda não se passou é um desafio. Mas por que passar por uma estrada desconhecida? Não é tão melhor andar por onde já conhecemos bem? Não será uma vaidade do espírito, um orgulho, avançar pelo desconhecido?
Quando eu e o amigo João Ademar paramos na entrada do Parque Estadual Cunhambebe, olhando o caminho que se perdia entre as serras, sentimos o que? Eu sou o bom, sou o tal, vou afrontar este sertão? Não, quedamos humildes, reverentes e ao mesmo tempo ansiosos de ver mais da obra de Deus. Pode acreditar, aquela trilha subindo para os picos da serra do Mar nos fez respeitosos. E tocamos por ela.
A serra do Matoso foi um caminho que os desbravadores dos tempos coloniais encontraram para ultrapassar o cinturão de serras que cercam o Rio de Janeiro e chegar ao interior da nova terra que exploravam. Por todo caminho vimos alicerces de pedra de antigas casas de fazenda.
É um lugar em que a mata Atlântica ainda tem bons pedaços intocados e a água brota de incontáveis minas e cruzam a estradinha. Cachoeiras e cascatas enfeitam as matas. Credo, parece até enredo de Escola de Samba! Se você olhar bem esta foto vai ver quatro bikes deitadas na segunda pedra à direita. Lá por cima encontramos mais de quinze ciclistas.
Quando planejei o caminho o Google me deu 20km de trilha entre os altos picos. Mas me enganou, foram 35km de sobe e desce no meio da beleza selvagem. Daí a vantagem de se sair bem cedo. Quando chegamos ao Rancho do Cláudio – lugar lindo e cheio de atrativos escondido no meio do sertão – já rodáramos 85 km e não era meio-dia.
Quando finalmente a gente sai dos grotões da serra do Mar, recebe-se um choque ao ver o mundo quase um quilômetro lá embaixo. Toda Baixada Fluminense enche os olhos da gente.
Uns motoqueiros que encontramos nos disseram que há muitos caminhos lá por cima e me detalharam três deles. O que passa pelas represas é muito cascudo e ele avisou - só pra botar medo na gente -: Mas vão com mais ciclistas porque ali tem muita onça!
Então, já fique sabendo, vou voltar a serra do Matoso para andar por outros caminhos desconhecidos.