Um dos belos circuitos de mountain bike em nossa região é o que sai de Volta Redonda, passa por Conservatória e rodando no alto da linda serra da Beleza nos proporciona uma vista maravilhosa.
Saímos em um grupo alegre e com três mulheres que pedalam muito. O ritmo era descontraído e para rodar 110 km assim só conseguiríamos terminar lá pelas 8 horas da noite. Como prometi almoçar com a Lili tomei um atalho e voltei, eu e meu anjo da guarda.
(a alegre Chuchu foi quem 'puxou' este longo passeio ciclístico)
Sem perder tempo, rodando forte e resfolegando mais do que locomotiva subindo ladeira íngreme, ainda assim percebi muitos lugares lindos: aquela curva no caminho toda enfeitada de espinheiro florido, a ponte dos Arcos obra majestosa do braço forte de nossos negros, o mar de morros se perdendo lá para os lados das Gerais, coisas lindas por demais.
É diferente de uma academia, muito diverso. São horas pedalando só, e a mente viaja. Meditar, raciocinar sobre um tema, dar voltas numa ideia pela cabeça é um trabalho mental maravilhoso que coaduna bem com o ritmo de se pedalar. Pensei sobre uma coisa que me intriga.
Quase todos os dias passeio com Malu ao redor da igreja de Santa Cecília e vez por outra acendo velas para as almas. Peço a Deus por parentes e amigos que se foram e ao final digo: e todas as almas que viveram neste planeta. Da última vez parei refletindo nisso e me perguntei: Quantas almas já passaram pela Terra? Nesta volta pela serra da Beleza, ‘só com meus botões’ refleti nisso.
O ser humano surgiu há 40 mil anos. A população se divide em gerações, cada uma se forma em 20 anos. Dividindo 40 mil por 20 encontramos 2.000 gerações.
- Você não chega a ficar maluco das ideias não, Zé?
Dá para pedalar, é automático, e com uma parte da mente prestar atenção em volta e com a outra desenvolver um pensamento. Continuando. De 40 mil até 10 mil anos os primeiros humanos sobreviveram bravamente a última era glacial. Formar uma prole era difícil. Supondo que naquele período, 30 mil anos ou 1.500 gerações, cada uma tivesse 20.000 indivíduos, andaram pelo planeta 30 milhões de almas. Depois, com o clima melhor, descoberta a agricultura familiar e construídas as primeiras cidades, de 10 mil até 2.000 antes de Cristo - em 8.000 anos e suas 400 gerações, cada uma com 200 mil indivíduos - peregrinaram em nosso planeta mais 80 milhões de almas.
A concatenação dos pensamentos não perde a continuidade quando se para apreciar uma coisa antiga ou bela, como a ponte dos Arcos acima de Conservatória. Há só um descanso, e quando monto na bike e recomeço a pedalar mecanicamente a ideia volta a se desenvolver de onde parou. De 2.000 antes de Cristo até 1.000 d.C - 3.000 anos ou 150 gerações, os grupos humanos divididos em clãs e depois em feudos, mas organizados e protegidos - cada geração teve 2 milhões de pessoas, perfazendo 300 milhões. Até o século 19 passou 800 anos ou 40 gerações com 20 milhões cada uma, o que dá 800 milhões de criaturas. Então, nos últimos 200 anos, com o avanço da ciência e da medicina a população deu um salto e cada uma das 10 gerações teve 2 bilhões de seres o que perfaz 20 bilhões.
Estava no alto da serra, um vento frio soprando de leve. Deixei a vista correr pelo relevo acidentado, o “mar de morros” que se formou em períodos muito mais longos que o tempo dos homens. Não podem ser medidos pela História, mas pela Geologia. Tornei a montar e desci vertiginosamente a serra, agora por uma estrada asfaltada ao invés do caminho esburacado de antes. Mas nem assim dá pra refletir, naquela velocidade sobre duas rodas só da mesmo para usar a parte instintiva da mente e o racional fica temporariamente desligado.
(pense por um momento, quão distante ficamos dos animais, nós numa praça de alimentação de um shopping, eles num comedouro desses)
De volta a baixada sobe-se os morros que cercam a pacata Santa Izabel do Rio Preto e toca-se para Amparo. Já havia pedalado 70 km, restavam 40. Dava para raciocinar de novo. Somando tudo, o que só deu para fazer agora usando a calculadora, constata-se que viveram neste planeta 21.210.000 de almas, vinte e um bilhões e tanto, três vezes o que está vivendo agora. Pensei então na ressurreição da carne. Para Deus nada é impossível, mas como colocar toda esta gente vivendo aqui novamente? Mas isto fica para outra postagem.