Elis Regina canta belamente estes versos:
“Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos”.
Essa música teve tudo a ver com o pedal deste sábado, 04/05/2013. Explico-me.
Durante a semana, trajando minha roupa de trabalho, não fui reconhecido por Eduardo Carvalho, ciclista e exímio mecânico de boas bikes. Contou-me, então, que vinha de dar uma aula de ciclismo urbano. Fiquei admirado, e foi isso que tentei fazer no belo pedal a Jaqueira. Levei dois iniciantes no ciclismo de mountain bike, Sérgio e Artur. Ainda me lembro, depois de uns bons seis anos, o que me ensinou o colega Manoel: a trilha da Jaqueira é um caminho perfeito para qualquer ciclista de mountain bike. Lá fomos nós.
Primeiro, ensinei os cuidados de pedalar no trânsito intenso da cidade e só fiquei tranquilo quando entramos na estrada de terra. Eles sentiram que o ciclismo exige esforço logo nas primeiras subidas.
A estrada aperta e vira caminho pedregoso, onde o equilíbrio dos novatos é testado. As subidas ficam mais pesadas e eles, já num trilho estreito, fazem a inevitável pergunta das primeiras pedaladas: ainda falta muito? Instei com eles a perseverar mais um pouco para poderem dizer depois: eu fiz a trilha da Jaqueira toda.
E bem adiante, depois de uma pequena elevação e uma descida leve em curva para direita, lá estava a velha árvore. Tiraram a foto que tantos outros ciclistas já fizeram ali numa afirmação de força e persistência. E voltamos.
- Zé, João Bosco ensinou uma vez que uma historinha tem de ficar amarrada, o princípio tem que ter necessariamente alguma coisa com o final!
Escuta aí. Depois da aula, que incluiu como descer o caminho esburacado, chamei-os para visitar o sítio onde trabalha o amigo Aceni, um renomado alambiqueiro. Os rapazes visitaram o depósito onde ficam estocadas as cachaças.
Provaram o bom paladar e aspiraram o cheiro bom da cana-de-açúcar moída e seu caldo trabalhado e destilado. Já passava a hora do almoço e todo mundo estava de barriga vazia. E foi então que o mestre ciclista conheceu a força da Marvada.
Se beber não dirija! Penso que deviam transformar esse alerta em ordem: Se beber não pode dirigir de jeito nenhum! Nem de bike. Vi que um bêbado na direção já está “trajando luto”, seja por ele mesmo, por seus acompanhantes ou por inocentes. Um bêbado dá para entrar num carro, liga-lo e dirigi-lo, dá até mesmo para se equilibrar em duas rodas.
Nessa música, de João Bosco e Aldir Blanc tem este verso cheio de signifantes:
“Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar”.
Andamos um bocado. Lembro que não dava para ter aquela visão plena e periférica, mau via o chão, e a bike torcia para a esquerda teimando em subir o barranco. Cheguei a subir pedalando o morro para São Sebastião, mas não tenho conhecimento dos últimos 15 minutos. Deitei num buraco forrado de capim (parecia a manjedoura de nosso Senhor) junto a biquinha d’água que tem ali. Só ouvia as vozes. Lili costuma avisar aos acompanhantes de pessoas doentes que, mesmo não vendo e não falando mais elas ainda escutam tudo.
Os alunos socorreram o mestre buscando um carro e deixando-o em casa. Sem machucados, apesar do amigo João2010 ter insinuado que eu não podia afirmar nada dos momentos em que estava derrubado pela Mardita. Então fica a ordem: Se for andar com iniciantes dê a eles só bons exemplos.