Ainda estava escuro quando os oito ciclistas montaram em seus camelos e foram para o local de encontro. Como os antigos reis magos eles íam ver o recém-nascido, a nascente do rio Paraíba do Sul. Por duas horas a Kombi que os levava e as suas bikes seguiu a mesma direção que os antigos astrólogos, o oeste.
Idêntico àqueles peregrinos que vieram do Leste nossa procura da fonte onde escorre as primeiras águas do grande rio imitou a própria vida. Chegamos a Areias, cidade antiga às margens da rodovia dos Tropeiros, em São Paulo, às oito da manhã fria e encoberta de pesadas nuvens, de 19/05/2013. Depois de um café acompanhado de um pão crocante e quentinho seguimos nosso destino em direção a Silveiras, 30 km adiante.
O percurso, como a existência cotidiana, teve os altos e baixos duma estrada sinuosa dos tempos antigos. Outra parada, um lanche reforçado e começamos a subir a serra. A hora era tardia, onze horas.
Sobe-se a Bocaina naquele trecho paulista por uma boa estrada asfalta, mas muito íngreme. Segurando no barrenge, como se fossem uns chifres no guidon da bike, forcejamos com pernas e braços para vencer a subida. Bem semelhante a todo esforço que na vida adulta a gente faz para sobreviver. Segundo a trilha delineada no Google Earth o percurso seria de 12 km, mas sabíamos que lutando para chegar a 900 m de altitude levaríamos duas horas, fizemos em três. (foto feita pelo amigo Edinho)
Era preciso arranjar uma refeição se queríamos chegar a nascente. Dois quilômetros antes do começo da trilha de chão têm duas casas e ali procuramos o que comer. Por sorte ‘dona’ Márcia está acostumada a atender viajantes e aprontou um almoço simples e muito saboroso. Comemos como os antigos viajantes, no alpendre da casa.
A tarde avançava e entramos na trilha que serpenteava entre as plantações de eucalipto rumando para os picos amarelados pelo sol do entardecer. Um motociclista nos avisara que para chegar onde estava o pequenino riacho que depois se transforma no caudaloso rio teríamos de pedalar muito. O caminho era bem usado por automóveis por causa de uma clínica para dependentes de drogas que fica lá em cima. Inúmeros caminhos surgiam à direita e a esquerda como nos tentando a não chegar ao nosso destino. Não havia nenhuma indicação nem moradias para nos orientar. O pessoal começava a cansar. As cores esmaeciam e algum nevoeiro se insinuava entre as folhagens. Chegamos numa bifurcação. À direita subia, à esquerda descia. Em trilha geralmente o caminho certo é o que sobe, mas ali a subida era um caminho com mato, sinal de ser muito pouco usado. A estrada descia e nós decidimos ir por ali.
Na clínica ninguém sabia do caminho para visitar o berço do rio menino. Reunimo-nos para uma decisão dolorosa: continuar por um caminho fechado que não se sabia se era o certo e pegar a noite que corria por entre a galharia como os soldados de Herodes ou desistir de visitar o local modesto onde nascia o Paraíba e tocar de volta descendo a serra. E diferente dos reis magos que tiveram a Estrela a lhes guiar e chegaram a casa onde estava a criança, nós voltamos sem que nossos olhos vissem o que fomos procurar.
Mas enquanto descíamos a serra cada um trazia no coração a determinação de voltar e dessa vez achar o rio criança.