Quando ao dobrar o morro de Itaipu surgiu a praia se perdendo de vista senti que tinha valido a pena o esforço.
Acordar cedo, andar com Malu ainda no escuro e pegar o ônibus das 5 horas, estava agora plenamente justificado. Por falar em pegar ônibus, é bom lembrar que todo cidadão brasileiro acima de 65 anos tem direito a viajar sem pagar. Isso é importante porque um velho ciclista pode pedalar por onde quiser, é só pegar um buzão.
Depois de atravessar a baia da Guanabara pela barca foi perigoso atravessar Niterói e ir até o fim de Itaipu no meio de um trânsito intenso, todo mundo indo para as praias. Mas cheguei ao alto e vi Itaipuaçu e o mar. Então foi só descer a estrada vertiginosamente e chegar correndo na praia. Deixei a bike debaixo de uma amendoeira junto a um quiosque que faz um peixe delicioso, a bermuda, o capacete e a bomba e fui mergulhar.
- Mas Zé, você toma banho de mar de tênis e camisa?
Não podia deixar a camisa com dinheiro (pouco), celular e câmera, levei tudo para perto da água. E não dava para atravessar o areal todo de pés descalços, era chapa quente mesmo. Depois de refrescado peguei a estradinha que beira o mar.
Mas aqui cabe uma explicação geológica. Nas fotos, ao fundo, erguem-se morros de granito. Nessa região são diversos, espalhados como se fossem semeados ali. Há 70 mi-lhõ-es de anos, quando a África separou-se da gente, esse litoral era um chapadão. Com o correr do tempo o vento, a chuva e os rios carrearam toda areia para o mar deixando na planície costeira os enormes rochedos. Mas o mar não é de guardar o que não quer e uma boa porção de areia foi amontoada de volta a beira mar. É a restinga.
Este riacho tem que andar muito, paralelo ao mar, até achar uma foz para desaguar. Tudo isto cria o maior inimigo do ciclista.
- São os morros, Zé? Ou a chuva e o frio o que mais atrapalha o ciclista?
O que torna o pedalar impraticável é o areal. Por isso mesmo meu intento de chegar a Saquarema fracassou, não passei de Inoã.