O anjo da guarda não pode ser só uma força subconsciente nossa. Quando se pratica mountain bike, mesmo com toda técnica, corre-se muitos riscos e um anjo protetor se torna quase materializado.
Neste domingo fomos a Bananal pela velha estrada da fazenda Bella Vista. Passei nela uma única vez há seis anos. Pouco me lembrava de seu traçado. Mas apoiado em informações seguras e da vista da trilha proporcionada pelo Google Earth empreendi com três companheiros o caminho, confiados em que estávamos seguros.
Nos primeiros 20 km andamos pelo asfalto. De modo algum é uma garantia de segurança. Especialmente neste trajeto caminhões de uma determinada empresa são useiros e vezeiros de apertar os ciclistas e nos jogar pra fora da estrada. Mas tudo transcorreu bem como se um forte guardião nos acompanhasse.
Em frente a bela fazenda Bocaina entramos no caminho de terra gozando as belezas da manhã fresca que se iniciava. Um gavião com quase um metro de envergadura de asas levantou vôo de um moerão de cerca, bateu suas longas asas bem a nossa frente e foi pousar num galho seco de uma árvore solitária nos observando como se fosse a materialização de nosso anjo guardião. Passamos por Rialto, onde paramos para um lanche, e continuamos pela estrada de Arapei.
De novo perdi a trilha. Andando para lá e para cá batemos num sítio e muito gentilmente a dona e seu marido saíram para nos explicar o trajeto que devíamos seguir. Foram anjos generosos na figura de gente simpática e simples. Com esta ajuda encontramos a senda escondida em meio a um bambuzal e seguimos bem até uma ponte onde a cabeceira foi levada por águas torrenciais. O caminho ensombrecido continuava do outro lado, mas não tinha jeito de chegar nele. Então, usamos o corte feito pela Petrobrás para colocar seus dutos de gás. Podíamos ter sido picados por uma cobra venenosa escondida no mato baixo, mas mesmo perto dos nossos tornozelos elas se aquietaram sob a força invisível de nosso mensageiro protetor. (foto do comandante MP)
Chegamos a fazenda Bella Vista quando o relógio já marcava 13 horas. Tomamos uma água barrenta que parecia o whisky 12 anos que Ferraz tinha degustado na noite anterior. Um belo garanhão negro nos olhava desconfiado de sua baia. A fome drenava nossas forças e ainda tínhamos 12 km pela frente. (foto da fazenda por um belo ângulo observado pelo fotógrafo MP)
Quando passamos por um sítio entre árvores MP sentiu que alguém o convidava para parar ali e pedir água. Ferraz o acompanhou. Mas meu anjo guia me disse para não parar e seguir com João que estava bem cansado. Quando nos reunimos lá na frente MP me contou que havia um churrasco na casa e homens e mulheres que já estavam fora de seu juízo perfeito os tentaram para tomar cerveja, comer uma carne macia e ainda dançar um forró, e comentou: - Você ia se dar bem lá, Zé.
Vôte, fasta pra lá! Retruquei:
- Meu anjo da guarda é fogo, sempre me livra do bembom.
E assim, amparado por um forte ser alado entramos em Bananal bem ao lado da igreja de N. Sra. da Boa Morte. Que não foi ainda desta vez.