bikenauta

Abril 28 2011

Uma noite dessas sai com meu genro, surfista do Rio criado na Tijuca, num pedal noturno. Saímos do centro da cidade, atravessamos vários bairros e continuamos por uma estrada de chão sem iluminação pública. Que vista linda! O céu era uma caixa de jóias brilhantes. Paramos apreciando aquela beleza toda.

Lembrei-me do que li no livro Memórias de Adriano:

“Desde as noites da minha infância, quando o braço erguido de meu avô Marulino me indicava as constelações, a curiosidade das coisas nunca mais me abandonou. Durante as vigílias forçadas dos acampamentos de guerra contemplei a lua correndo através das nuvens. Apenas uma vez em toda minha vida fui além: ofereci às constelações o sacrifício de uma noite inteira. Isto aconteceu durante a travessia do deserto sírio. Deitado de costas, com os olhos bem abertos, abandonando por algumas horas toda a preocupação humana, entreguei-me, do anoitecer ao alvorecer, àquele mundo de flama e cristal. Foi a mais bela das minhas noites. O grande astro da constelação da Lira, estrela polar dos homens que viverão quando não existirmos mais, resplandecia sobre minha cabeça. Os Gêmeos luziam fracamente nas última claridades do poente. A noite, sem beleza para os que dormem em seus quartos, fez-se mais escura e depois clareou. As fogueiras acesas para espantar os chacais apagaram-se;aqueles montes de carvões acesos fizeram-me lembrar meu avô, de pé no vinhedo, mostrando-me o céu da Espanha. Conheci mais de um êxtase, mas o da noite síria foi estranhamente lúcido”.

Precisamos tentar isto. Ver o grande filme que repassa todas as noites e sempre perdemos de vê-lo.

publicado por joseadal às 23:20

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