bikenauta

Novembro 13 2012

No caminho pedregoso que passa por cima da serra da Bocaina, tem um restaurante, mas não um qualquer, o Chez Bruna.

O jeito é de casa de repasto alemã e o verde do tapete de grama e a sombra das araucárias fazem parecer mais ainda que estamos na Europa. Cansados sentamos a mesa e com a prece e o agradecimento silencioso e pessoal, nos atiramos a larga bandeja de salada.

Os pratos ficam coloridos por um momento, mas logo poderosas garfadas fazem desaparecer a alface, a rúcula, as cebolinhas no vinagre, o queijo temperado, a cenoura e a beterraba raladinhas, os pedaços suculentos de manga, tudo azeitado com um delicioso molho de mel com mostarda. A tarde de céu encoberto faz a saudade de casa crescer no peito.

Então a língua se solta e começa o convercê. Reginaldo puxa um tema que nos faz refletir. Foi mais ou menos isto que ele disse e nós retrucamos:

- Deus, quando juntou o homem e a mulher decretou que não fossem mais dois, mas um só. De forma alguma Ele tencionava que ela deixasse de ter seu jeito e ficasse igual ao homem, nem que ele perdesse sua identidade e ficasse como a mulher. Não, o um só era um terceiro.

- Mas como é essa adivinha, meu camarado? Que terceiro é esse? (um colega brinca: seria o Ricardão?) Esse um só não atrapalharia a convivência dos dois?

- De maneira alguma. Esse um só não é uma pessoa de carne e osso, nem é uma adaptação deles dois. Esse misterioso um, é tudo o que eles dois viveram juntos, tudo por que passaram e realizaram em comum.

- Então, se um casal se separa aquele um não desaparece!

- De jeito algum, já que os feitos dos dois – bens imóveis e móveis adquiridos ou construídos, filhos e amigos, fotose  livros, discos e músicas – sempre recordarão aquele um, o que fizeram juntos. Os homens podem desmanchar um casamento, dividir bens, amigos e filhos, mas o que aconteceu está registrado para sempre.

- O que Deus ajuntou o homem não pode separar.

- Exato. E o mesmo sucede com um grupo. Estamos hoje aqui e amanhã poderemos estar longe ou impossibilitados de nos juntar novamente para outro pedal, mas o que vivemos hoje não será jamais esquecido.

- Sim, nossa caminhada por dentro da mata...

- Quando ouvimos o barulho da cachoeira e vimos lá embaixo o mar e as enseadas.

- O tombo do amigo Zé! Pensei que ele tinha descido lá para ver alguma coisa, curioso como é.

- A vitória da amiga que levantou sua bike no alto da serra. Que subiu pedalando com toda confiança.

- Sim, esta experiência há de ficar para sempre. Eduardo vai poder conta-la aos filhos que ainda vão nascer. A amizade pode até acabar por causa de um ato impensado, mas o que está feito é inapagável. De nós cinco se fez um, o nosso feito.

publicado por joseadal às 21:27

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