A estrada que começa na ponte Zacarias, entre Sta. Izabel do Rio Preto e Sta. Rita de Cássia, está bem compactada para levar asfalto. É praticamente plana e é perigosa para quem costuma dormir sobre a bicicleta em paisagem sempre igual, dá um sono danado. Mas bem ali, do outro lado do rio Preto, a coisa muda de figura. A estradinha bem batida é para um só carro passar de cada vez, e muitas bikes correrem sem preocupação. O visual é, como disse Nilson, citando a esposa Jaqueline: lúdico. Um dos significados da palavra cai como uma luva: é pura diversão.
Saímos de Rio Preto numa manhã cinzenta e fresca que nos incitava a pedalar muuuiiito. Éramos três: os dois irmãos, Nilson e João, e eu.
O rio calmo é o companheiro constante enquanto corremos entre morros altos, porque, naquele trecho o vale feito pelo rio é estreito.
Velhos casarões, como esse que serve um almoço bem típico, aparecem muitas vezes.
As cachoeiras, como a do Barbosa, é sempre um convite, mas não para essa vez, 19/04/2013, sábado de Aleluia. Não havia sol.
Depois de vinte bons quilômetros, em que topamos com o burrinho amigo do colega Paulo Renato, que estava acampado no Funil com a patroa,
decidimos visitar a formosa fazenda São Bento do Mato a Dentro, construída no início do século XIX. Os descendentes dos proprietários tinham vindo, como é costume em toda semana santa, para gozar as delícias do lugar, participar da reunião do clã e voltar no tempo. Naquele trecho a serra fica afastada do rio Preto e formam vales muito bonitos.
Voltamos à estradinha, passamos pela fazenda Santa Clara com suas cem janelas – algumas verdadeiras outras falsas – e atravessando a ponte dos arcos fomos almoçar no restaurante do Duque, cada dia melhor.
- Só esse pouquinho, Zé?
Na verdade, não. Nilson e o irmão João foram visitar a usina velha em Cel. Cardoso e voltaram para Rio preto, onde deixaram o carro. Eu me mandei logo para casa, andando mais 70 km. Sempre aventureiro deixei a estrada pronta para o asfalto e entrei pelos caminhos de fazenda, trilha descoberta por João Bosco. No meio das serras o céu ficou preto que nem urubu e os raios riscavam o céu.
Fiz minha prece e enquanto o aguaceiro despencava em Sta. Izabel e em Rio Preto, fui abençoado só com uns pingos refrescantes.
Ah, sim, ia esquecendo de contar. O único senão neste passeio foi não ter visto, por mais que olhasse, a bengala do coronel escravagista da fazenda Sta. Clara. Nilson, que muito pedala por ali, afirmou quase jurando que já viu a tal bengala enfiada num galho lá no topo da figueira. A história é que o coronel arremessou-a num moleque escravo e o anjo da guarda do menino desviou a ponta afiada que foi se fincar na árvore. Naquele tempo ela ficava a coisa de 5 metros do chão, mas com o tempo ela está cravada a mais de 30 metros. Mas olhei, olhei, perdi tempo, e não vi nada. São estórias da roça.