“Vista assim do alto mais parece um céu no chão, sei lá”.
Precisa ser a noite para ver as luzes brilhando no asfalto como as estrelas do céu. Mas era dia, nublado, chuvoso, e pior estava sozinho com minha bike e queria subir um ponto alto no Rio.
Mas não podia dar mole.
Estava no final do Leblon quando vi a comunidade agarrada a encosta do Corcovado.
- Lá é o quê, irmão.
- Moro lá, é o Vidigal.
- Vou subir o Vidigal.
O samba de Paulinho da Viola fala de Mangueira, mas no Vidigal é idêntico.
“a poesia
Num sobe-desce constante
Anda descalça ensinando
Um modo novo da gente viver
De pensar e sonhar, de sofrer”.
Todo mundo se conhece. A rua é uma só e todo mundo sobe ou desce passando pela casa dos vizinhos. A maioria uso o serviço de moto-taxi. Elas passam roncando pela gente o tempo todo.
Agarrado ao barrange da bike forcejava subindo sem parar. Mexia com um e com outra, todos replicavam. É um modo legal de viver.
Mas tinha de subir numa lage e “seu” Antônio que está morro há 50 anos desde que veio do Ceará, me deu a chave e disse: vai lá olhar, não repara a bagunça, teve um forró com um monte de gringo.
A praia do Leblon faz uma curva linda lá embaixo.
Pra descer abaixei o selim pra ficar mais perto do chão, caso caísse. Chovia o tempo todo e os paralelepípedos estavam um quiabo.
- Onde se come bem aqui em cima, colega?
- Vai no Paladar Nordestino, você vai gostar.
Gostei, a sardinha estava fresquinha e sem gordura.
Acabei de descer para o asfalto. Olhei pra cima e pensei: é bacana viver numa comunidade. Fui.
Na Lagoa passei pelo velho campo do Flamengo e tirei uma foto em frente ao Ônibus de cores tão bonitas.